Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – No Sul do país, especialmente no verão, uma pequena lagarta cujo nome popular é taturana já causou hemorragia em várias pessoas e matou duas delas. Mas é do veneno desse pequeno animal que poderá sair a cura para a hemorragia. É o que pretende a doutora em biologia Ana Beatriz da Veiga, 29 anos, primeiro lugar da categoria graduado da 21ª edição do Prêmio Jovem Cientista. O resultado foi anunciado hoje (10) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em Brasília.
Segundo Ana Beatriz, que é pesquisadora Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alguns componentes existentes no veneno da taturana podem ser utilizados tanto no tratamento da síndrome hemorrágica quanto em doenças cardiovasculares, como a trombose. Ela fez uma análise e montou um catálogo com as principais moléculas produzidas pela lagarta e destacou as que têm prováveis funções tóxicas.
"O trabalho com o veneno da lagarta hemorrágica Lonomia teve uma importância não apenas para mostrar várias moléculas que estão envolvidas nesse envenenamento", ", afirma a pesquisadora, que receberá R$ 20 mil de prêmio.
"Ele pode ser também utilizado no tratamento do envenenamento, no diagnóstico mais adequado desse envenenamento e também em moléculas que possam ser utilizadas no desenvolvimento de drogas para terapia antitrombótica, para terapia de problemas de arteriosclerose e coagulação humana em geral. Até mesmo moléculas dele podem ser utilizadas no futuro como terapia para câncer e outros problemas de saúde humana."
O próximo desafio da pesquisadora será produzir em laboratório as proteínas recombinantes da taturana, para desenvolver no futuro um anti-coagulante para tratar a doença provocada pela lagarta e outros problemas ligados à circulação sangüínea.
Antes do remédio ficar pronto, algumas etapas terão de ser cumpridas. "Depende muito de financiamento, de pessoas envolvidas e da sorte, porque laboratório nem sempre a gente pode prever o que vai acontecer no tubo de ensaio", afirma ela.
Ana Beatriz da Veiga trabalhou na pesquisa por seis anos. Foram utilizadas técnicas de biologia molecular e de bioinformática no estudo. Formada em Ciências Biológicas pela UFRGS, ela fez mestrado em Biologia Celular e Molecular no Centro de Biotecnologia da UFRGS e este ano concluiu o doutorado na mesma área, com especialização de um ano no National Institutes of Health, em Washington, Estados Unidos.