Relatório diz que contato de Valério com empresas do governo pode ter financiado esquema de Delúbio

10/11/2005 - 14h52

Luciana Vasconcelos e Marcela Rebelo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - As ligações das agências de publicidade de Marcos Valério de Souza com empresas do governo podem ser a fonte dos recursos que foram destinados às pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, afirma o relatório parcial divulgado hoje (10) pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios.

"No caso concreto, a necessidade de financiamento de um partido político - ou de diversos partidos políticos da base aliada do Governo - serviu de pretexto a que fosse constituída uma articulada e consistente estrutura para desviar recursos públicos de órgãos estatais, empresas estatais ou órgãos paraestatais, promover o financiamento partidário escuso e traficar influências", afirma a introdução do documento.

Mais adiante, afirma que "pode-se tomar como exemplo o contrato de publicidade e propaganda celebrado entre o Banco do Brasil e a empresa DNA, que foi objeto de auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União, em que se constataram irregularidades em sua execução".

A CPI também investiga outras empresas que fizeram depósitos de valor elevado em benefício das empresas ligadas a Marcos Valério, como a Usiminas, a Telemig Celular e a Amazônia Celular. Outras possíveis fontes de recursos, segundo o relatório, são as próprias empresas de Marcos Valério, cujos contratos com o Poder Público foram aditados e prorrogados, e que também ganharam outras "cobiçadas contas de publicidade" da administração federal, assim como os Bancos Rural e BMG. As instituições financeiras tiveram em Valério, segundo o texto, um "facilitador" para obtenção de vantagens junto ao governo.

Também estão sendo investigados recursos de empresas privadas com interesse no governo, que contrataram as agências de publicidade, corretagem em investimentos dos recursos de fundos de pensão e dinheiro originário do exterior. "É bom registrar que uma fonte não exclui a outra e, apesar de não haver crime perfeito, a criminalidade está cada vez mais sofisticada, como nessas operações que evitam rastreamento, em especial em tão pouco tempo".

O relatório reafirma declarações do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) de que a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento, a Visanet e a Servinet poderiam ter sido utilizadas pelo Banco do Brasil para repassar recursos ilegais à DNA.

O relatório afirma que em 12 de março de 2004, a Visanet depositou R$ 35 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil. O valor foi transferido para outra agência e R$ 34,8 milhões foram aplicados em um fundo de investimento da instituição financeira. Segundo Serraglio, em 22 de abril, a DNA transferiu R$ 10 milhões para o BMG. Em 26 de abril, o banco concedeu um empréstimo à empresa Rogério Lanza Associados, com Marcos Valério como sócio – justamente no valor de R$ 10 milhões.