Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os prejuízos com a febre aftosa e com a possível entrada do vírus da gripe do frango no Brasil são temas cada vez mais presentes nas discussões entre autoridades sanitárias, da área econômica e de saúde no país. Até hoje, desde o primeiro foco de aftosa em Mato Grosso do Sul, detectado no início do mês, não foi calculado o montante das perdas, nem pelo governo federal, nem pelos estados atingidos. Suspeita-se que a aftosa tenha chegado também ao Paraná, de acordo com nota divulgada sexta-feira (21) pela Secretaria de Agricultura do estado.
O secretário de Produção e Turismo de Mato Grosso Sul, Dagoberto Nogueira, havia estimado, quando foram descobertos os primeiros focos no estado, perdas em torno de R$ 10 milhões com o que se deixaria de arrecadar em Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Mas o valor talvez seja até maior, já que a lista de países que suspenderam a compra de carnes brasileiras subiu, desde então, de 28 para 43.
O embargo foi imposto pelos 25 países da União Européia; Israel; África do Sul; Rússia; Paraguai; Uruguai; Peru; Argentina; Bolívia; Chile; Cingapura; Cuba; Egito; Indonésia; Moçambique; Namíbia; Noruega; Suíça, Ucrânia.
Ontem (24), o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, afirmou que a crise da aftosa não afetaria o desempenho das exportações deste ano. A meta estimada pelo ministério é que as exportações brasileiras cheguem à marca de US$ 117 bilhões.
Já o secretário-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, reafirmou hoje, no Rio, o que havia dito na semana passada, quando se reuniu com o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel. Para a Abiec, as exportações brasileiras de carne bovina não vão atingir a meta de US$ 3 bilhões, prevista para 2005. Camardelli estimara, após o encontro com Maciel, que as exportações dos três meses finais do ano terão redução de 30% no desempenho.
Ainda que a realidade de uma epidemia não atinja o setor avícola, tanto o setor público quanto o privado estão se precavendo e adotando medidas para evitar um cenário como o que vive atualmente a pecuária. O vice-presidente da União Brasileira Avicultura (UBA), Ariel Mendes, falou hoje, após reunir-se com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, da preocupação do setor com a possibilidade da entrada do vírus da gripe aviária no Brasil.
Segundo Mendes, o Brasil não só perderia o posto de maior exportador de carne de frango, como deixaria de exportar o produto. Se a doença atingisse o país, os importadores imporiam embargos imediatamente, prejudicando o mercado interno. A previsão é de que o Brasil exporte, este ano, três milhões de toneladas de carne de aves. "Os três milhões de toneladas teriam que ser jogados no mercado interno, e isso realmente provocaria queda no preço e quebra das empresas pequenas e médias", avaliou.
Como forma de evitar tais problemas, os produtores de carne de aves apresentaram ao ministro proposta de regionalização da produção, a exemplo do que ocorre na pecuária. Assim, o trânsito de animais vivos ficaria proibido no caso de detecção de uma epidemia, só sendo permitida a troca de matrizes genéticas (pintinhos produzidos exclusivamente para melhoramento do plantel) entre os estados. O comércio só seria liberado para carne de aves processadas e ovos.
O programa de regionalização da produção avícola seria implantado a partir de janeiro do ano que vem em sete estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, além do Distrito Federal. Para Ariel Mendes, as medidas poderiam garantir que estados sem focos de gripe aviária, ou outra doença, continuassem a exportar.
Prova da preocupação com a possível chegada do vírus da gripe do frango no país, foi criado hoje um grupo de trabalho com representantes dos empresários e do governo para definir ações preventivas. Como uma das primeiras medidas desse trabalho conjunto, o ministro Roberto Rodrigues sugeriu a instalação de detectores de matéria orgânica nos aeroportos e a incineração dos restos de alimentos servidos nos aviões. Além disso, o ministério está elaborando, em paralelo ao Ministério da Saúde, um plano de contingência da influenza aviária (gripe do frango).
Toda vez que se fala em surtos de doenças em animais, levanta-se sempre a hipótese de que faltou aplicar devidamente os recursos. Hoje, Rodrigues, que antes havia atribuído o foco de aftosa ao contingenciamento do Orçamento, suavizou o discurso e disse que o surgimento da doença não foi provocado apenas por um problema de falta de recurso. "Como o gado foi vacinado, como todas as ações foram tomadas, talvez se nós tivéssemos dez vezes mais recursos, a aftosa teria aparecido do mesmo jeito", observou.
Ele afirmou que está em negociação, com a área econômica do governo, a liberação de R$ 78 milhões do orçamento original estipulado para a defesa sanitária, em 2005. Rodrigues disse que o dinheiro será aplicado não só no combate à aftosa, mas também nas medidas preventivas contra a entrada da gripe aviária.
O ministro anunciou também que o presidente Lula editará medida provisória (MP) estipulando o valor da indenização de pecuaristas que tiveram perdas com o foco de febre aftosa. A MP, que deveria ter sido editada sexta-feira, beneficiaria os produtores do Mato Grosso do Sul, mas, como o Paraná divulgou nesse dia a suspeita de quatro focos no estado, o governo decidiu esperar a confirmação dos exames de laboratório. O laudo, com o resultado da análise de material colhido nos quatro municípios com animais que apresentaram sintomas da doença, deverá ser divulgado amanhã (26). No texto da MP anterior, a indenização para os pecuaristas sul-mato-grossenses era de R$ 16 milhões.
De acordo com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a responsabilidade pela contaminação do gado por febre aftosa não pode ser atribuída a uma suposta falta de liberação de verbas. Ele disse, hoje, no Rio de Janeiro, que foram liberados R$ 90 milhões no início do ano para os programas de Defesa Animal e Vegetal do Ministério da Agricultura.