Lílian de Macedo
Da Agência Brasil
Brasília – O crédito para pequenos produtores só causará mudanças se for colocado junto com mudanças gerais do sistema financeiro, defendeu o economista Ignacy Sachs. "Senão, é a margem da margem da margem", afirmou o professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais na França, em palestra hoje (24) em Brasília, na 8ª plenária do Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local.
Sem mudanças no tipo de financiamento da produção nacional, o microcrédito apenas "posterga o debate sobre o real papel do Estado, do sistema financeiro e do sistema público de fomento para desenvolvimento no campo e na cidade", disse. Sachs diz que os juros cobrados pelas instituições de microcrédito do país variam entre 4% e 10%, o que o torna inacessível a maior parte da população. "Quem cobra juros de 4,5% ao mês é um agiota; e quem pega é um idiota", sintetiza.
O estudioso acentua, ainda, que o Brasil possui um dos menores índices do mundo de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a maior parte dos poucos financiamentos é direcionada para produtores rurais, mas deixa carente o empreendedor na cidade.
"O agricultor familiar, teoricamente, tem o acesso ao Programa Nacional de Amparo à Agricultura Familiar [Pronaf], que dá créditos altamente subvencionais", afirma. "Pegue, agora, qualquer produtor informal na cidade. O tratamento é totalmente assimétrico. E quando a gente levanta créditos subsidiados para os pequenos produtores urbanos, os economistas tradicionais reclamam".
O presidente da Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito (Abcred), José Caetano Lavorato, discorda da opinião de Sachs. De acordo com ele, o microcrédito é acessível a grande parte da população e, além disso, auxilia o desenvolvimento regional. "Este instrumento cria alternativas de geração de trabalho, renda e desenvolvimento local sustentado", destaca.
Já coordenador do Comitê Nacional do Microcrédito e Secretário Nacional da Economia Solidária, Paul Singer, argumenta que ainda há pouca divulgação sobre o tema. "É importante conscientizar o povo brasileiro de que o microcrédito é uma arma potente na luta contra a pobreza", relata. Singer estima que cerca de 250 mil pessoas têm acesso a este tipo de recurso no país.