Mesmo com efeito da alta de juros, emprego deve continuar crescendo, avalia economista

23/10/2005 - 17h38

Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As diferentes pesquisas sobre emprego divulgadas esta semana indicam uma melhora na criação de empregos, na visão do economista Márcio Pochmann. Para o economista, as pesquisas mostram uma pequena queda na criação de novos postos de trabalho. Segundo ele, resultado da sazonalidade – efeito diferente em cada época do ano.

Mas Pochmann vê melhoras gerais, não só no Brasil, como em toda a América Latina. E acredita que os dados comprovam uma tendência que se identifica desde 1999. Segundo ele, esse resultado ocorre, apesar da elevação da referência básica de juros para a economia, a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). De setembro do ano passado até maio, o Banco Central aumentou a Selic de 16,25% ao ano para 19,75%.

Especialista em trabalho na academia e em sua atuação política, Pochmann concedeu entrevista à Agência Brasil sobre o assunto. O economista gaúcho é professor na Universidade de Campinas (Unicamp) dentro do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Fora da academia, também atuou no mesmo tema, como secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura paulistana durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2004).

Agência Brasil: Como o senhor percebeu a série de pesquisas voltadas para a questão do crescimento do emprego, divulgadas esta semana?

Márcio Pochmann: É um conjunto de informações positivo, de maneira geral apontando para a continuidade do emprego formal. Especialmente no que diz respeito aos dados do Ministério do Trabalho, que acompanha as contratações e as demissões. Aí nós tivemos então mais um saldo positivo.

Isso dá continuidade ao período que se inicia, praticamente, em 1999 e segue até os dias de hoje. As outras pesquisas mostram o mesmo movimento de expansão do emprego.

Os dados da Organização Internacional do Trabalho são mais amplos, não apenas tratando do emprego formal e para além do Brasil, na região latino-americana. Nela, percebe-se também o mesmo movimento. No meu modo de ver, são dados que revelam por conseqüência uma performance melhor das economias latino-americanas e brasileiras no que diz respeito à expansão da atividade econômica.

Do ponto de vista do mercado de trabalho, toda vez que há crescimento econômico isso puxa de alguma forma o emprego. Nós precisamos agora analisar com mais cuidado se este emprego que vem expandindo trata-se não apenas de maior quantidade de ocupações, mas refere-se a melhor qualidade do emprego.

Em 2003, estávamos com 8,5 milhões de pessoas desempregadas em todo o país. A expectativa é que agora o desemprego seja menor, justamente porque em 2004 o Brasil registrou um bom desempenho econômico.

ABr: Quais os setores em que se identificou aumento de emprego?

Pochmann: Há uma continuidade da expansão do emprego, no que diz respeito aos pequenos e micro-empreendimentos. Isto é algo bastante factível e interessante porque está sendo possível combinar expansão de empregos nestes setores inclusive com melhora relativa da renda especialmente por decorrência da subida do salário mínimo em termos reais este ano.

É momento bastante interessante. Por outro lado, ainda verificamos um efeito mais dinâmico do emprego naqueles setores vinculados a exportação. O emprego dependente mais das atividades voltadas para o mercado interno não tem crescido como poderia, justamente porque prevalece a ênfase das exportações em relação ao mercado interno no país. Na indústria mas tem impacto no comércio e serviços porque são setores atrelados à expansão do mercado interno.