Executado pela ditadura militar, Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura

22/10/2005 - 9h44

São Paulo – O jornalista Vladimir Herzog tinha 38 anos, era casado e pai de dois filhos, quando foi morto em 1975. Nasceu na Iugoslávia e veio com sua família para o Brasil aos nove anos. Naturalizado brasileiro, além de atuar como professor universitário, ele era diretor de jornalismo da TV Cultura, emissora pública do governo do estado paulista. Ao deixar o trabalho na emissora, na noite do dia 24 de outubro daquele ano, ele se dirigiu ao quartel do 2º Exército, no bairro Paraíso, para falar, sob intimação, de sua atuação política.

Ele foi encontrado morto, supostamente enforcado, na cela em que estava preso, na tarde de 25 de outubro de 1975. O comando do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de repressão do exército brasileiro, divulgou nota oficial à imprensa informando que Herzog cometera suicídio.

Desde a sua divulgação, a versão oficial foi refutada por movimentos de resistência à ditadura militar (1964-1985). Uma semana após a morte do jornalista, cerca de oito mil pessoas participaram de um ato ecumênico na Catedral da Sé, no centro da capital, celebrado pelo cardeal arcebispo Paulo Evaristo Arns, pelo pastor presbiteriano James Wright e pelo rabino Henri Sobel. O ato se transformou num dos marcos das articulações que levariam ao fim da ditadura.

"Que a memória de Vladimir Herzog faça dessa a geração da esperança que renasce todos os dias, e que todas as esperanças em conjunto formem uma corrente irresistível que nos levará a dias melhores", afirmou Paulo Evaristo Arns na cerimônia.

Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, o processo movido pela família do jornalista, trouxe à tona a verdade sobre a morte de Vladimir Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista, naquele que foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado.

Vladimir Herzog era de família judaica e seria sepultado em local diferenciado, conforme determina o ritual para os suicidas na tradição judaica. Mas foi enterrado no cemitério da comunidade em São Paulo, no bairro do Butantã, com honras e em local nobre por decisão do rabino Sobel. Na preparação do seu corpo para o sepultamento, foram encontradas marcas de tortura.