Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A migração do padrão analógico para o digital não representa apenas uma melhoria da qualidade de imagem e som da televisão brasileira. A nova tecnologia combina as características tradicionais com algumas das funcionalidades dos computadores, abrindo um leque infinito de aplicabilidades. A explicação foi dada pelo engenheiro Takashi Tome, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), em painel sobre o processo de digitalização das transmissões de televisão no Brasil, na noite de ontem (20) em Brasília.
"A digitalização abre um horizonte de novas possibilidades. Estamos trabalhando tanto na exploração das novas potencialidades quanto no desenvolvimento de uma plataforma adequada às condições brasileiras", afirmou Tome.
Considerado o maior centro de pesquisa em tecnologia da América Latina, o centro coordena o projeto do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), em desenvolvimento desde março deste ano por 22 consórcios de universidades, centros de pesquisa e empresas. Integram a estrutura do SBTVD dois grupos interministeriais de gestão e desenvolvimento e um Conselho Consultivo com participação da sociedade.
Existem no mundo três sistemas de TV Digital – o americano, o japonês e o europeu – desenvolvidos a partir das necessidades e interesses de cada país. Todos foram testados e analisados por entidades e especialistas brasileiros e chegou-se a conclusão de que um padrão de televisão digital para o Brasil deveria atender à nossa realidade.
"Nenhum desses sistemas conseguiu ser recebido em 100% dos pontos do país, o que é muito importante. Estamos trabalhando num sistema mais robusto", revela o engenheiro. O custo é outro aspecto preponderante para o desenvolvimento de um sistema próprio, de forma que a nova tecnologia seja acessível a grande parte da população. "Temos a preocupação de conseguir empacotar toda essa maravilha numa máquina que seja razoavelmente acessível à maior parte da população", afirma.
O sistema em desenvolvimento, que deve ter custo de R$ 200 a R$ 1,2 mil (dependendo da configuração) permitirá adotar um "canal de retorno" que possibilitará aos telespectadores o envio de dados. Esta interatividade poderá ser aplicada em programas educativos muito mais ricos, com diversas imagens e vários áudios, em diferentes idiomas. "Um grupo de Santa Catarina desenvolveu um programa interessante sobre stress, no qual um médico faz perguntas e o telespectador responde pelo controle remoto. No final, dependendo da pontuação, o médico dá o diagnóstico", conta Tome.
Outra possibilidade será a utilização, via televisão, de serviços como correio eletrônico, governo eletrônico e informações e transações bancárias. "Na prática, a TV Digital é uma nova ferramenta de comunicação de massa com grandes impactos culturais, econômicos, tecnológicos e educacionais", avalia o pesquisador.
Para Tokashi Tome, a tecnologia brasileira certamente será exportada para a América Latina, mas isso não é o mais importante: "O grande produto do terceiro milênio não será equipamento, embora hardware (a parte física dos equipamentos) seja muito importante e a gente tenha grande interesse nisso. O grande produto vai ser conteúdo, programas audiovisuais, programas interativos, e o Brasil tem um potencial fantástico neste sentido, o brasileiro é um povo muito criativo".