Dirceu acusa relator de omissão e falseamento em parecer que recomenda cassação

21/10/2005 - 17h52

Iolando Lourenço e Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) contestou hoje (21) os argumentos utilizados pelo relator do processo que pede a sua cassação, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). As críticas ao parecer de Delgado foram entregues à imprensa em um documento de 22 páginas. Nele, Dirceu acusa o parlamentar mineiro de usar jurisprudência falsa, omitir e editar depoimentos, transformar suposições em evidências e falsear informações.

"Não estou desqualificando ou desmerecendo relatório do relator, estou contra-argumentando", disse o deputado. Para José Dirceu, Delgado usa jurisprudência falsa para sustentar a tese de que o deputado poderia ser cassado por atos praticados fora do exercício do mandato, como nos casos dos ex-deputados Hildebrando Pascoal, Talvane Albuquerque e Feres Nader.

"Os deputados-relatores desses processos usaram fatos ocorridos no exercício do mandato para fugir à controvérsia jurídica e são, de fato, completamente inaplicáveis ao presente caso", afirma José Dirceu, que também aponta falha do relator ao omitir partes dos depoimentos do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do ex-presidente do PT, José Genoino. "É preciso destacar que as diversas testemunhas ouvidas pelo Conselho de Ética afirmaram em seus depoimentos que seria inviável a minha atuação em atividades partidárias".

Por escrito, Dirceu também destacou que a quebra de seus sigilos telefônicos não apontam sequer uma ligação para o empresário Marcos Valério de Souza. Em entrevista à imprensa, o deputado petista fez outras críticas ao deputado Júlio Delgado, relator do seu processo. Para ele, o mesmo raciocínio utilizado por Delgado para dizer que seria "impossível" ele não ter conhecimento do suposto "mensalão" pode ser aplicado ao próprio relator.

"O deputado Júlio Delgado era o líder da bancada do PPS quando a suposta mesada a parlamentares foi citada pela primeira vez, pelo Jornal do Brasil, no final de setembro de 2004. Entre os líderes estava o deputado Miro Teixeira. O líder da bancada do PPS não sabia? Ou, se sabia, foi omisso? Mais ainda se teria o deputado Júlio Delgado quebrado o decoro parlamentar, pois, a exemplo do ex-deputado Roberto Jefferson, não denunciou o suposto esquema?", perguntou Dirceu.