Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf Sul) assinou nesta quinta-feira (20) um protocolo de parceria com o GM-Free Network para explorar a exportação de soja não transgênica produzida pelos agricultores familiares da região. A idéia é trocar experiências entre pequenos agricultores brasileiros e europeus.
Representantes do GM Free Network, grupo que integra 35 regiões da Áustria, França Espanha,Itália, Grã-Bretanha e Grécia defensoras de território livre de alimentos transgênicos estão no país para discutir a abertura do mercado europeu aos produtos brasileiros. Um dos objetivos da rede é colaborar com a transparência dos dados econômicos, custos, condições sociais de produção e remuneração dos produtores, garantindo no futuro um comércio de soja que proteja o solo, a água e as florestas.
Para Altemir Tortelli, coordenador-geral da Fetraf Sul, com essa parceria vai ser possível mudar a imagem dos produtores de soja brasileiros no exterior. "É uma conquista muito importante porque lá na Europa sempre se dizia que no Brasil não havia mais soja convencional. E aqui, se passava uma imagem de que só existia grandes produtores e latifundiários, grandes empresas e que não existia agricultura familiar. Esse é um primeiro passo, de aproximarmos as informações na Europa e as informações aqui no Brasil", afirmou.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no país, há mais de 4 milhões de agricultores familiares, responsáveis por 35% da produção da soja brasileira. De acordo com Tortelli, na região sul do país mais de 50% da soja é produzida pela agricultura familiar. No Paraná, mais de 90% da produção de soja é convencional, ou seja, não transgênica.
Altemir Tortelli acredita que a parceria estabelece uma agenda de ações conjuntas entre Brasil e Europa contra os transgênicos. "Estamos em uma estratégia de resistências aos transgênicos junto com o governo do Paraná e junto com as organizações. E eles também estão fazendo isso na Europa. Eles não só não estão produzindo mais transgênicos, como não estão importando produtos transgênicos - como no caso da soja. Isso mostra que é possível ter uma aliança entre quem não produz transgênicos aqui com quem não importa transgênicos na Europa", explicou.
Outra meta, segundo Tortelli, é aumentar o valor agregado ao preço da soja nacional produzido pela agricultura familar em até 15%, além de acabar com a intermediação dos atravessadores do produto, responsáveis pelo aumento da soja que chega a Europa em até 50%. "Há uma disposição em construir pontes entre agricultores na Europa e agricultores no Brasil. Porque de fato quem ganha com o mercado internacional da soja nem são os agricultores que produzem leite e carne na Europa e nem nós, agricultores familiares do Brasil. Poderemos melhorar o preço da soja para o agricultor aqui e melhorar o preço da soja ou da soja transformada para os produtores de leite e carne que são também agricultores familiares na Europa", disse Tortelli.