Irene Lôbo*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou hoje (15) apoio à iniciativa do governo espanhol de incentivar países ricos a converter as dívidas de países mais pobres em investimentos em educação. "Como credor, o Brasil somou-se a essa idéia dispondo-se a perdoar a dívida de Cabo Verde em troca da constituição da primeira universidade pública daquele país", disse Lula, em seu discurso na XV Cúpula Ibero-Americana.
Lula também pediu que os países ibero-americanos juntem-se à "luta" contra os subsídios que países desenvolvidos dão à produção e às exportações agrícolas de seus países. Segundo o presidente brasileiro, o tema deve fazer parte da agenda da comunidade. "Não podemos perder a oportunidade que nos oferece a Rodada de Doha para construir um mundo mais justo e equilibrado", afirmou, em referência à atual rodada de negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio, a se encerrar ainda este ano.
O presidente brasileiro também repetiu a defesa que o Brasil vem fazendo da contabilização de gastos de países devedores com educação, saúde e infra-estrutura como investimentos, não como despesas.
Após felicitar o anfitrião Juan Carlos I pelo trigésimo aniversário de seu reinado, o presidente Lula falou do lançamento da Secretaria-Geral Ibero Americana. "O órgão vai favorecer e ampliar o poder de coordenação dos países ibero-americanos", disse. O Brasil vai ocupar a Secretaria-Adjunta, representado pela embaixadora Maria Elisa Berenguer.
Lula apresentou em Salamanca (Espanha) uma das três sessões temáticas da Cúpula, intitulada "As projeções internacionais da Comunidade Ibero-Americana". O presidente lembrou que a comunidade não está partindo do zero. "Vários projetos em curso entre nossos países testemunham o potencial dessa cooperação. Ressalto, em particular, a iniciativa para identificar fontes inovadoras de financiamento para o combate à pobreza extrema que lançamos em setembro passado, em Nova Iorque", disse Lula.
Como desafios para a cúpula, Lula disse que é preciso "promover a paz, democratizar o sistema internacional, lutar contra o terrorismo, impulsionar o desenvolvimento sustentável, o combate à fome e à pobreza". "Só venceremos esses desafios se soubermos derrotar preconceitos e desconfianças", afirmou.
Lula também lembrou que a atuação de vários países no Haiti é emblemática e pode se tornar um modelo de resolução de conflitos e de apoio a países em grave crise econômica e social. "Sem truculência ou hegemonismos, queremos contribuir para a paz e a reconstrução econômica e social do Haiti".
O presidente disse que a Comunidade Ibero-Americana deve ampliar seu diálogo internacional, em particular com a África: "Poderíamos começar pelos países de língua portuguesa e pela Guiné Equatorial, de expressão castelhana, que já manifestaram esse interesse".
As outras duas sessões da cúpula tiveram como tema "A realidade sócio-econômica da Comunidade Ibero-Americana" e "Migração Ibero-Americana". O apoio dos países participantes à troca de dívida externa por investimentos em educação deverá fazer parte da Declaração Final da Cúpula, que se encerra hoje.
*Colaborou o enviado especial a Salamanca, Luiz Fara Monteiro