Procuradora diz que é preciso ainda investigar ocultação de cadáveres durante ditadura militar

10/10/2005 - 16h18

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A procuradora da República, em São Paulo, Eugênia Augusta Gonzaga, disse que a identificação dos restos mortais de Flávio Molina, desaparecido há quase 34 anos, durante a ditadura militar, não encerra o inquérito aberto em 1999. "Não podemos arquivar esse inquérito, porque existem muitas medidas que podem ser tomadas", disse ela, citando que a principal questão é apurar o crime de ocultação de cadáveres.

A família de Molina recebeu hoje (10) os restos mortais do militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo), grupo que agia contra o regime da Ditadura Militar (1964-1985). Ele tinha 24 anos quando foi capturado pelo Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), em novembro de 1971.

Cerca de trinta pessoas, entre autoridades e familiares de mortos e desaparecidos políticos estiveram presentes. Entre elas, Clara Charf, viúva do guerrilheiro Carlos Marighella. "Todos somos solidários com esse momento e isso traz à lembrança todos os outros companheiros que foram assassinados e não foram encontrados até agora", afirmou Charf. Ela considera que esse caso abre caminho para que possam ser descobertas as ossadas de outras vítimas.

De acordo com Suzana Lisboa, ex-membro da Comissão de Familiares das Vítimas de Mortos e Desaparecidos Políticos, de um total de 400 vítimas, cerca de 150 eram militantes desaparecidos e, destes, apenas três tiveram os corpos identificados, entre os quais o de Flávio Carvalho Molina.

A procuradora observou que existe polêmica quanto à interpretação jurídica em casos de mortes de pessoas que se opunham ao regime militar, mas que mesmo sendo um caminho difícil, cabe a busca de responsabilidade na ocultação de cadáver. "Se não tivermos sucesso, não cessaremos, iremos aos tribunais internacionais que têm dado grande apoio a questões desse tipo, porque o dano foi para toda uma geração tolhida politicamente".