Mônica Lago
Da Agência Brasil
Brasília - Uma das organizadoras do 1º Simpósio Brasileiro Sobre Espécies Exóticas Invasoras, Sílvia Ziller, disse ontem (7), no último dia do encontro, que o problema com essas espécies é uma questão científica ignorada na América do Sul, e que sua discussão ficou de fora dos assuntos científicos que são tratados dentro da biologia. Ela opina que os conflitos com o setor produtivo ocorrem porque não há técnicas de manejo adequadas e existem espécies que são mais difíceis de controlar do que outras, e diz que a sociedade pode ajudar a combater o problema.
A ecóloga, que dirige o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, afirmou que é preciso debater a questão. "A gente tem alguns exemplos fora do Brasil, como a Nova Zelândia, na qual muitas questões já foram resolvidas porque se compatibilizou um manejo adequado com formas de controle e sistemas de prevenção, resolvendo os problemas". Lá, o número de espécies exóticas de flora supera o de nativas – 25 mil contra 2 mil, segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Florestais da Nova Zelândia Charles Low. De acordo com Low, no país é preciso pedir autorização a uma agência de gerenciamento de recursos ambientais para importar espécies. Ele conta que técnicos neozelandese foram levados aos Estados Unidos para ajudar no combate a espécies invasoras de veados.
Para Sílvia Ziller, trazer espécies de fora, em geral, causa mais prejuízos do que benefícios a médio prazo. "Em geral, buscam-se soluções simples, optando por espécies de fácil reprodução e criação, que se multipliquem em abundância e que se adaptem facilmente". O problema é que essas características, procuradas para cultivo e desenvolvimento rural, são as mesmas das espécies exóticas invasoras. "A princípio, podem-se ter benefícios econômicos, mas à medida que o processo de invasão acontece você acaba criando problemas ambientais, de seguridade alimentar, de mudanças em tradições culturais, o que acaba desalojando pessoas e outras espécies de seus ambientes naturais e prejudicando os sistemas produtivos", ponderou.
Na opinião de Ziller, não é forçoso restringir a presença de quaisquer espécies de outros países. Mas é necessário verificar se existe a possibilidade de controle e, nesses casos, fazer uma adaptação de manejo. Ela explica que existem várias formas de dispersão das espécies: por vento, animais, água e até por fogo. "A questão principal da dispersão está ligada à causas humanas, principalmente em ambientes terrestres", diz. "Em ambientes marinhos, muitas vezes, são questões acidentais. Os rios contribuem levando sementes de um ponto a outro, papel que alguns animais também fazem." Ela lembra que pneus de carro, sola de sapato e água de lastro de navio também podem ser vetores de dispersão.
A pesquisadora afirma que as pessoas precisam aprender sobre o assunto, saber quais os seus possíveis impactos ambientais e econômicos. "É necessário haver campanhas de conscientização pública, para que as pessoas não cultivem plantas ornamentais que se propagam com muita velocidade, não soltem animais de estimação na natureza – quando não tiver mais condição de cuidar, entregar para um zoológico, para o Ibama ou outro órgão que possa receber – e não carregar sementes, plantas, terra e frutas de um lugar para outro, mesmo dentro do Brasil", explicou.