Especial 10 - Para Greenpeace, crédito de carbono não pode se transformar em licença para poluir

08/10/2005 - 9h45

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio - As Reduções Certificadas de Emissões (ou crédito de carbono) são uma importante ferramenta para incentivar os países, particularmente os desenvolvidos, a lidar melhor com a questão da emissão dos gases do efeito estufa e suas conseqüências maléficas para o aquecimento da terra e o agravamento do problema. Elas só não podem é se transformar em licenças para que os países ricos continuem a poluir o planeta, alerta o diretor de Campanha do Greenpeace no Brasil, Marcelo Furtado.

Para ele, o Tratado de Quioto, que obriga os países desenvolvidos a reduzir em 5% as emissões dos gases que provocam o efeito estufa ao nível de 1990, até 2012, é fundamental para o planeta, na medida em que obriga esses países a reduzirem as emissões.

Na opinião de Furtado, o único problema foi a demora na ratificação do documento: "Obviamente, as metas que estão fixadas hoje no Tratado de Quioto são muito baixas. Houve muita demora na ratificação do documento e, nesse período, a ciência evoluiu e a indústria continuou poluindo. Hoje a situação é bem pior. Então, é fundamental uma revisão dessas metas, com os países ricos tendo que fazer reduções mais fortes e os países em desenvolvimento, que são também, em alguns casos, grandes emissores, como o é o Brasil, terão que dar sua contribuição nesse processo antes mesmo de 2012, como determina o protocolo".

Furtado considera importante o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual países desenvolvidos que não consigam atingir as metas de redução da emissão de gás carbônico, podem atingir a meta comprando crédito de carbono junto aos países em desenvolvimento que implementam programas de redução da emissão de gás carbônico (CO2).

"Há metas a serem cumpridas pelos países que ratificaram o Tratado de Quioto, em particular, os desenvolvidos, e é claro que vários deles poderão encontrar dificuldades para atingi-las. É aí que entra o mecanismo do crédito de carbono, pelo qual esses países podem comprar - vamos dizer assim - a economia de lançamento de carbono feita em alguma outra parte do mundo", disse Marcelo Furtado.

Ele ressaltou, entretanto, que "o mecanismo poderá acabar se transformando em uma licença para poluir. Ou seja: os países ricos, que têm dinheiro, vão ao mercado comprar esses créditos e, em conseqüência, sentem-se desobrigados de fazer o seu dever de casa".

O dirigente do Greenpeace disse que o Brasil é o quarto maior emissor de CO2 equivalente (gás carbônico e outros gases causadores do efeito estufa) e que também tem que fazer a sua parte.

"Pelo Tratado de Quioto, nossa obrigatoriedade de redução de emissões só deverá ocorrer a partir de 2012, como aliás também a dos outros países em desenvolvimento. Porém, acho que mais do que estarmos preocupados com a venda de crédito de carbono através dos chamados projetos limpos, temos também que fazer nosso dever de casa", afirmou Furtado. Ele citou dados do próprio Ministério de Ciência e Tecnologia, segundo os quais o Brasil, como quarto maior poluidor do mundo, despeja todo ano na atmosfera mais de um bilhão de toneladas de CO2, dos quais 770 milhões são provenientes de desmatamentos e queimadas.

De acordo com Furtado, é fundamental que o Brasil faça uma avaliação sobre seu potencial para resolver o problema do desmatamento e das queimadas. "Daríamos uma imensa contribuição para a solução do problema simplesmente assumindo metas de diminuição dos desmatamentos e também de geração futura de energias provenientes de fontes renováveis: energia solar, eólica e biomassa são fontes importantes que podem assegurar o nosso futuro".

Para o ambientalista, uma coisa fica bastante clara: "A gente só resolverá o problema da mudança do clima se todo mundo contribuir para eliminar as emissões. No caso do Brasil, é principalmente resolver o problema dos desmatamentos e, no da Europa e dos estados Unidos, é lidar com a questão da queima dos combustíveis fósseis. Volto à questão - os projetos para eliminação do gás carbônico são fundamentais e muito importantes para reduzir o efeito estufa, mas nós não podemos perder o parâmetro e sobrevalorizar essa iniciativa".