Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio - O engenheiro Emilio La Rovere compara a instituição do mercado de créditos de carbono com a situação de racionamento de eletricidade que o Brasil viveu em 2001. La Rovere é coordenador do Programa de Planejamento Energético na Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
"É como se fosse o racionamento de energia elétrica que nós sofremos em 2001, em que cada residência tinha que reduzir o seu consumo em relação à média dos meses anteriores. Só que no caso dos países desenvolvidos a redução é de emissão de gases", explica ele. "É simples: países em desenvolvimento que estejam desenvolvendo projetos que evitem a emissão de gases geram créditos de carbono, que se transformam em Redução Certificada de Emissões (RCEs). Desta forma, mesmo que indiretamente, eles estariam reduzindo a emissão gases poluentes."
La Rovere cita como exemplo um aterro sanitário que utiliza equipamentos que capturem o gás carbônico depreendido pelo lixo organito e o transforme, digamos, em energia elétrica. "É preciso entender que existe o fenômeno chamado efeito estufa", chama a atenção. Ele explica que o efeito é "gerado pela atividade do homem ao longo do tempo e que vem aumentando a níveis alarmantes, principalmente nos países desenvolvidos por meio da queima dos combustíveis fósseis - derivados do petróleo, do gás natural, do carvão mineral e também, um pouco, em razão dos desmatamentos e das queimadas".
O professor lembra que o aquecimento do planeta decorre do efeito estufa: "Esses gases liberados se acumulam na atmosfera, aprisionam o calor que a terra manda para o espaço e, com isso, causam o aquecimento global". As conseqüências, explica La Rovere, são as mudanças climáticas. "Aumenta a temperatura da terra, mudam o ciclo e a intensidade das chuvas, aumenta o nível dos oceanos e ocorrem mais fenômenos da natureza do tipo furacões, inundações, secas e o El Niño (fenômeno no oceano Pacífico que causa alterações climáticas na América do Sul), que passa a ocorrer com mais freqüência e intensidade".
O professor La Rovere, que também é coordenador de Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lembra que o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que possibilita a emissão dos créditos de carbono, foi criado exatamente para viabilizar que países em desenvolvimento que reduzam a emissão de gases causadores do chamado efeito estufa possam vender esses "créditos" para empresas ou governos de nações ricas, obrigados pelo Protocolo de Quioto a se tornarem menos poluentes até 2012. "Como eles vão fazer isso? Podem mudar tecnologias, produzir carros mais eficientes e utilizar mais combustíveis limpos – em geral não fósseis - ou adquirirem no mercado as RCEs", explica ele.
No caso específico do Brasil, explica o professor, é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo que proporciona que um projeto, ou uma atividade aqui desenvolvida, que reduza a emissão de gases na atmosfera, possa dar origem a um crédito que tem um valor de mercado. "Há vários projetos que já estão sendo desenvolvidos e encaminhados no Brasil", diz ele.