Luciana Valle e Rodrigo Savazoni
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Leia a seguir o segundo trecho da entrevista concedida hoje (6) ao Revista Brasil, programa da Rádio Nacional, pelo senador tocantinense Leomar Quintanilha, que na semana passada deixou o PMDB para se filiar ao PCdoB. Confira a seguir a segunda parte da conversa.
Agência Brasil: Na sua opinião, por que, por quase 60 anos, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ficou longe do Senado?
Quintanilha: É uma candidatura majoritária, uma candidatura realmente difícil. Eu acredito que, por estar assim um tanto setorizado, mais centrado em setores de maior atuação da política nacional, é possível que essa tenha sido uma das dificuldades para ter representação no Senado. Mas as coisas estão mudando, até porque havia, no meu entendimento, um certo preconceito nacional contra o comunismo, contra uma ortodoxia que, eu entendo, já não preside as ações do partido.
O partido discute principalmente a igualdade de tratamento das pessoas, se preocupa principalmente com os mais pobres, com os desassistidos e isso efetivamente é a maioria da população brasileira. Eu creio que o partido começa a ter na sua bandeira, nas bandeiras que defende, uma simpatia maior por parte da população e isso pode mudar o cenário, mudar o quadro.
Eu espero, a partir do Senado, dar um pouco de visibilidade a esse tipo de preocupação que o partido tem, para que a população entenda que o PCdoB é um dos grandes defensores das teses que vão ao encontro das aspirações da grande maioria do povo brasileiro.
Agência Brasil: Na história do Brasil, o sr. é o segundo senador comunista eleito. O primeiro foi Luiz Carlos Prestes, há 60 anos. É possível estabelecer um paralelo entre a sua atuação e a dele?
Quintanilha: Eu acho que Luiz Carlos Prestes, a Coluna Prestes, acabou dando uma contribuição ao país com a sua travessia pelas regiões inóspitas, numa demonstração de que era possível buscar uma convivência com a harmonia e com a liberdade, inclusive de pensamento.
É claro que eu não quero estabelecer comparações entre o que Luiz Carlos Prestes - um dos ícones importantes e principais do PCdoB - fez e a minha modesta participação. Mas eu acho que muitas coisas mudaram de lá para cá. Eu vejo nas propostas do partido um slogan muito interessante: "o PC do B renovado". Só se renova com idéias novas, com atitudes novas, com o ingresso de pessoas que pensam de forma um tanto diferente do que aquilo que estava sendo praticado anteriormente.
Essa possibilidade do debate é um negócio muito interessante e bonito dentro do PCdoB. Você tem ampla liberdade de debate e discussão e de apresentação de suas teses e suas idéias. Eu acredito que isso pode mudar, se não o perfil, a participação do partido na política brasileira.
Agência Brasil: O sr. fala em renovação, em formar novas lideranças, e também falou na possibilidade de construção de um novo projeto político para o estado do Tocantins. Quais seriam as bases, os fundamentos, desse projeto político que o senhor pretende levar para todos os municípios tocantinenses?
Quintanilha: Eu comentei que o estado é novo e foi criado em razão da ausência de poder que existia ali. Para você ter uma idéia, o estado tem uma extensão territorial enorme. São 278.420 quilômetros quadrados. É quase do tamanho de Goiás, estado do qual ele se desmembrou, que tem pouco mais de 340 mil quilômetros quadrados.
Para lhe dar um dado econômico e social. Quando foi criado o estado, abstraindo a rodovia Belém-Brasília, que é uma estrada federal, nós tínhamos no território tocantinense 260 quilômetros apenas de estradas pavimentadas, enquanto que, em Goiás, esse número passava de 7 mil quilômetros. Nós tínhamos na região do Tocantins apenas 62 leitos públicos hospitalares funcionando para a população de mais de 1 milhão de habitantes. A educação era um desastre.
Nos levaram a propor a separação, e essa separação foi interessante. Foi muito boa para Goiás e foi extraordinária para o Tocantins. Goiás melhorou muito o desenvolvimento sócio-econômico, Goiás é hoje uma das economias pujantes do país e ao Tocantins foi permitido buscar o seu destino. Nós temos hoje lá noTocantins quase 5 mil quilômetros de estradas pavimentadas. Mudou muito o cenário, porque permitiu a integração de diversas regiões do estado e a própria integração do estado com as demais regiões brasileiras. Nós tínhamos 300 acadêmicos em um posto avançado da Universidade Federal. Hoje nós temos mais de 30 mil acadêmicos.
Então, são essas transformações que eu espero que nós continuemos a fazer de forma mais acentuada. A proposta que eu quero embasar na discussão é exatamente pelo ser humano, como prioridade número um do estado.
Agência Brasil: O que significa, na sua opinião, a presidência da Câmara dos Deputados por Aldo Rebelo, também do PCdoB?
Quintanilha: Veja que coisa interessante. Eu queria fazer antes um breve comentário. Eu já torcia pelo deputado Aldo Rebelo antes de tomar a decisão de ir para o PCdoB, porque tive uma convivência boa com ele, por isso pude conhecê-lo melhor e admirá-lo como homem e como um político de elevado espírito público.
Eu entendia que, nessas dificuldades que a Casa estava enfrentando, o deputado Aldo Rebelo reunia condições para recobrar o equilíbrio e a credibilidade que a Casa tanto necessitava e o país também. Já para o partido foi efetivamente uma grande conquista, pela visibilidade e pela importância que a presidência da Câmara dos Deputados revela.
Eu acredito que isso pode até contribuir e repercutir em outros estados como um estímulo às pessoas que possam vir para o PCdoB e ajudar o partido a vencer suas preocupações com a cláusula da barreira.