Gerente diz que fazenda ocupada pelo MST é produtiva

05/10/2005 - 17h10

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A fazenda AgroReservas, ocupada desde o último dia 25 por famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tem 30 mil hectares e é de propriedade da Igreja de Jesus Cristo dos Santos do Últimos Dias. A igreja, conhecida como religião Mórmon, tem sede nos Estados Unidos.

Segundo o gerente financeiro da AgroReservas. Helton Vecchi, a igreja tem fazendas nos Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, a empresa existe há dois anos e tem fazenda apenas em Unaí (MG). Helton explica que a propriedade, chamada originalmente de Fazenda São Miguel, tinha 45 mil hectares e era do Grupo Votorantim. Os outros 15 mil hectares foram vendidos pelo grupo a outros dois interessados.

Na fazenda, segundo o gerente, há 300 funcionários. Ele diz que são criadas 7.600 cabeças de gado e existem plantações de soja, milho, trigo, feijão e laranja. A produção, diz Vecchi, é vendida para empresas de agronegócio e para o mercado regional. Segundo ele, a empresa tem fins lucrativos. "Mas o segundo objetivo da empresa é prover alimentos para a população em época de emergência ou escassez", diz.

O gerente afirma ainda que a fazenda possui seis silos, reservatórios que, segundo ele, comportam 30 mil toneladas de grãos. E estão sendo construídos mais oito silos. Segundo Helton, 95% das terras são produtivas. "Tem um parecer do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), de 2003, dizendo que a fazenda São Miguel é altamente produtiva."

O advogado do MST, Ribamar Araújo, diz que o movimento não questiona a produtividade da propriedade, mas a origem das terras. "O Iter (Instituto de Terras de Minas Gerais) fez um estudo e chegou à conclusão de que aquela área é terra devoluta. Por isso, o pessoal se organizou para ocupar as terras", afirmou.

Segundo o movimento, 400 famílias ocupam hoje a sede da fazenda AgroReservas: cerca de cinco hectares, onde estão situadas a casa do gerente e a casa de hóspedes. Os proprietários já pediram a reintegração de posse.

O MST afirmou, em nota divulgada à imprensa na semana passada, que "existem informações de que um grande número de pessoas trabalha na fazenda em condições de trabalho escravo sem o acesso aos direitos trabalhistas".

Helton Vecchi diz que, na área, "não há nenhum trabalho escravo". "Todos os nossos funcionários são registrados, recebem todos os direitos deles: cesta básica, seguro de saúde. Acredito que não exista nenhuma empresa na região que dê mais benefícios ao trabalhador do que nós", declarou o gerente da fazenda.

Para um dos coordenadores do MST no Distrito Federal e Entorno, Augusto Targino, a fazenda AgroReservas tem que ser entregue ao Incra e destinada à reforma agrária. "Estamos reivindicando terras para assentar no mínimo 2.500 famílias que temos acampadas no Distrito Federal e no Entorno. Tem famílias que está há cinco anos debaixo da lona e nunca se resolveu essa situação", disse.

Segundo Augusto, há quatro anos nenhuma família foi assentada na região. "Estamos reivindicando também crédito para a safra 2005/2006, assistência técnica para os assentados, infra-estrutura para os assentamentos antigos, renegociação das dívidas, enfim, toda uma pauta que já estamos negociando há quatro anos", diz.

A ocupação faz parte da Jornada de Luta do MST, lançada na última semana. Desde o último dia 26, integrantes do movimento ocuparam as sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em vários estados, além de pedágios no Paraná e propriedades rurais por todo o país.