Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Organismos não-governamentais e instituições das Américas do Sul, Central e do Norte vão criar uma rede de intercâmbio de informações sobre espécies invasoras no continente, segundo informou o mestre em Manejo de Vida Silvestre, pela Universidade Nacional de Córdoba, Sérgio Zalba. O projeto, intitulado de I3N, da sigla inglesa para Inter-American Invasives Information Network, será financiado pelo departamento de Estado e Serviço Geológico dos Estados Unidos.
"A idéia é usar bases comuns de informações de modo a poder compartilhar informações da maneira mais direta possível", explica Zalba. "O tema das espécies invasoras requer ações muito rápidas. E a base de dados sempre foi pensada como um meio, e não como um fim, para conhecer o problema e para resolver problemas reais na vida real contra as espécies invasoras. Precisamos compartilhar todas as informações que temos para isso."
Dalba conta que já fazem parte do projeto Argentina, Bahamas, Brasil, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Jamaica, México, Paraguai, Peru, República Dominicana e Estados Unidos. Foi por meio do projeto intergovernamental da rede interamericana, usado entre 2001 e 2002 na Argentina para a criação de uma banco de dados sobre espécies invasoras e trazido para o Brasil em 2003 pelo Instituto Hórus, que o Ministério do Meio Ambiente realizou o primeiro levantamento sobre invasões biológicas no país. Ele está em fase de conclusão e deve ser apresentado, em versão próxima à final, no 1º Simpósio Brasileiro sobre Espécies Exóticas Invasoras, do qual o professor argentino participa.
De acordo com Sérgio Zalba, a criação do banco de dados na Argentina abriu espaço para discussão sobre o impacto provocado pelas espécies invasoras naquele país. "Até aquele momento não havia consciência sobre a questão. Era um problema de diagnóstico", comenta o professor.
Segundo ele, ainda há setores no país que promovem a introdução de novas espécies exóticas no meio ambiente como alternativa à geração de emprego e melhoria da produção econômica. "Em muitos casos se ressaltam os benefícios associados às espécies, mas não se sabem os problemas que elas podem trazer. Experiências recentes mostram que ocorreram mais problemas que benefícios. E ainda há o inconveniente de que muitas vezes não estamos de acordo sobre como enfrentar as complicações."
Segundo Zalba, há na Argentina mais de 300 espécies invasoras. O castor canadense e o pinheiro são algumas delas. Os castores são responsáveis pela derrubada de árvores e pela construção de pequenos diques e barragens nos rios, que provocam inundações locais, matando árvores próximas ao rio: "Eles mudam toda a dinâmica do ecossistema. Cerca de 95% da Terra do Fogo tem castores e foi transformada drasticamente". Já os pinheiros, segundo ele, ameaçam espécies nativas da flora dos Pampas argentinos.
Sérgio Zalba ressaltou ainda a necessidade de criar formas de convivência entre as espécies invasoras e as nativas para que o impacto seja o menor possível. Ele lembrou que as espécies exóticas não reconhecem fronteiras políticas. "É por isso que o problema tem que ser enfrentado de uma perspectiva racional e regional. Um país sozinho não pode fazer praticamente nada em relação a isso."