Especial 5 - Combate às espécies invasoras exige integração, diz coordenador de programa mundial

05/10/2005 - 1h55

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília - É indispensável a realização de um trabalho integrado entre os países para um combate efetivo à disseminação de animais, plantas e microrganismos invasores. A afirmação foi feita pelo presidente do Programa Global para Espécies Invasoras (Gisp), Guy Preston, em entrevista à Agência Brasil.

"Se já é muito difícil conter esse problema numa pequena ilha, num país de dimensões continentais como é o caso do Brasil o problema de invasão será ainda mais complexo", afirmou Preston, que veio ao Brasil para o 1º Simpósio Brasileiro sobre Espécies Exóticas Invasoras. "Esse problema já existe de fato e deve ser visto. É importante que os países trabalhem juntos de forma a poder olhar esse universo e encontrar formas de se ajudar, de se prevenir de novas introduções e de que novos problemas sejam criados".

Guy Preston é um dos coordenadores do programa Working for Water ("trabalhando pela água"), realizado na África do Sul desde 1995 como parte da iniciativa do governo pós-apartheid para a reconstrução e o desenvolvimento do país. O projeto é voltado ao combate de plantas invasoras que comprometem os recursos hídricos locais e impedem o bom uso produtivo da terra. Pinheiros, eucaliptos, acácias e árvores australianas, além de espécies brasileiras como o aguapé, estão entre as principais responsáveis pelo impacto negativo nas águas do país.

O programa já beneficia 33 mil pessoas por meio de ações sociais voltadas para capacitação, educação e geração de emprego e renda para a população pobre e para cidadãos que jamais tiveram uma oportunidade de trabalho. "Além da geração de muitos empregos, é importante ressaltar que se não houvesse esse projeto muitos empregos teriam sido perdidos, porque as espécies exóticas invasoras vão destruindo o ecossistema e a possibilidade de as pessoas viverem da terra", explica o presidente do Gisp.

O Working for Water realiza mais de 300 projetos na nove províncias da África do Sul. É o maior projeto de conservação em todo o continente africano, com um orçamento anual de US$ 85 milhões.

Preston lembra que todas as nações em desenvolvimento enfrentam desemprego e espécies invasoras e diz que qualquer país, inclusive o Brasil, pode desenvolver programas semelhantes a esse. "O governo tem esse potencial, mas cabe ao país decidir. Eu acredito que não exista nenhum país no mundo capaz bancar o custo de não trabalhar o combate às espécies invasoras." Ele lembrou que a principal questão no combate à essas espécies é saber quem obtém lucro e quem está pagando pelos prejuízos por elas causados. "Eu não posso falar pela América do Sul, mas na África é muito importante perguntar quem está se beneficiando e quem está pagando essa conta. Muitas vezes são os ricos que se beneficiam e são os pobres que pagam. Isso não está certo."