Bianca Paiva
da Agência Brasil
Brasília - O Rio São Francisco, descoberto há 502 anos, "detém cerca de 75% da água disponível no Nordeste e a região tem apenas 3% da água disponível do Brasil inteiro", disse hoje (4) Pedro Brito, coordenador geral do projeto de integração do rio às bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional. "O São Francisco é importante não só para os estados por onde passa, mas também para os estados que vão receber água por meio do projeto", acrescentou.
Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM, Brito lembrou que o projeto possibilitará levar água a 12 milhões de nordestinos. "Serão construídos dois canais, aquedutos, túneis e reservatórios. Um canal vai sair perto da cidade de Cabrobó, em Pernambuco, em direção ao Ceará, Rio Grande do Norte e a Paraíba. Esse chamado Eixo Norte tem uma extensão de cerca de 410 quilômetros e será necessária uma elevação de 180 metros para que a água saia da bacia do São Francisco e entre nas bacias desses estados", explicou.
O outro canal, chamado de Eixo Leste, sai da Barragem de Itaparica, em direção a Pernambuco e à Paraíba, segundo Pedro Brito. "São 220 quilômetros aproximadamente e a elevação deverá ser de 300 metros para a água cair na bacia do Rio Paraíba. A água será levada através dos canais e jogada em grandes reservatórios já construídos nos estados, onde mais de 2 mil quilômetros de adutoras a redistribuirão", informou.
O coordenador disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou como prioritário o projeto de transposição e que já foram investidos cerca de R$ 100 milhões em obras de revitalização do São Francisco. "O rio sofreu ao longo de 15 anos de mau uso, está degradado, porque foram cortadas praticamente todas as matas ciliares, as que ficam nas margens. E são 250 municípios e e comunidades ribeirinhas que jogam esgoto, poluindo o rio", acrescentou.
Segundo Pedro Brito, o projeto "vai tirar apenas 26 metros cúbicos de água do rio por segundo – é um filete de água se comparado ao mar que é o São Francisco". O rio tem uma vazão média de 2.850 metros cúbicos na foz e o projeto "não trará prejuízo às populações ribeirinhas, como inundações, por exemplo".
A Organização das Nações Unidas (ONU), lembrou o coordenador, determina a existência de uma disponibilidade mínima de mil metros cúbicos de água por habitante/ano. Na região Nordeste, a média é de apenas 450 metros cúbicos por habitante/ano e atualmente está com menos da metade. "Nós vamos criar um rio de 1.700 quilômetros. É um benefício muito importante para uma região que não tem recursos hídricos e não tem como sobreviver quando acontece uma seca", concluiu.