Especial 1 - Brasil busca saber o tamanho do prejuízo causado pelas espécies invasoras

04/10/2005 - 0h52

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Criar um animal originário de outro país no Brasil ou transportar uma planta de uma região brasileira para outra pode provocar transformações irreparáveis na fauna e na flora locais. Eles podem ser converter nas chamadas espécies invasoras – animais, plantas ou microrganismos que no hábitat de origem não causariam qualquer dano, mas que se levadas para outro ecossistema podem se disseminar de forma desordenada e causar, inclusive, prejuízos à saúde humana e à economia.

De acordo com o coordenador-geral de Fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), André Jean Deberdt, ainda não se tem uma noção exata sobre o tamanho do problema causado pela entrada dessas espécies no território brasileiro. A fim de conhecer essa realidade, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com cinco instituições, está realizando um levantamento padrão das espécies exóticas (a palavra, aqui, é usada para denominar o que vem de fora, e não para indicar aparência) existentes no país. A apresentação do estudo, em versão próxima à final, está marcada para o 1º Simpósio Brasileiro sobre Espécies Exóticas, que começa hoje (4) e vai até a próxima sexta-feira (7), na capital.

Para dar uma idéia do alcance da também chamada contaminação biológica, Deberdt cita uma estimativa, usada como referência, do professor David Pimentel, da Universidade de Cornell, segundo a qual essas espécies causam prejuízos de US$ 1,4 trilhão por ano no mundo, US$ 137 bilhões nos Estados Unidos e US$ 49 bilhões no Brasil. O coordenador revela que entre os invasores exóticos que provocam mais estragos no país estão o javali, o mexilhão-dourado, o caramujo-africano e espécies de pinheiro e de capins africanos.

O javali é considerado pela União Internacional de Conservação da Natureza uma das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo. O animal entrou no Brasil há dez anos pela fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Nos estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul já existem vários focos de populações selvagens da espécie. "Esse animal ataca principalmente as plantações de milho e animais de criação e pode transmitir doenças para a fauna nativa", explica Deberdt. "Ele se adapta facilmente a qualquer tipo de ambiente e começa a proliferar rapidamente. No Rio Grande do Sul já causa problemas seriíssimos."

O coordenador do Ibama explica que as medidas de combate ao ataque de animais exóticos invasores ainda são muito recentes no país. "Nós ainda estamos implementando algumas técnicas de controle. Não é muito fácil controlar as espécies, pois elas já estão instaladas na natureza. Uma vez que o javali entrou, será muito difícil erradicá-lo, mas é possível controlar e diminuir os problemas provocados por ele." Na tentativa de reduzir a população de javalis no Rio Grande do Sul, o Ibama realizou nos últimos dez anos diversos estudos e autorizou a caça do animal. O estado é o único autorizado a praticar o abate.

Os caramujos-africanos, trazidos para o Brasil em 1980 como alternativa ao escargot, também já infestaram todo o país, segundo Deberdt. Em agosto o Ibama proibiu a criação do molusco e determinou que os criadores entreguem as matrizes às autoridades em 60 dias. Já a braquiária e o capim-gordura, também originários da África, foram introduzidos no país ainda durante a colonização e hoje são cultivados para a pastagem de gado. Devido ao excesso de sementes que produzem e da facilidade com que elas se espalham, essas espécies estão substituindo a vegetação nativa da região onde são plantadas.

A lei de crimes ambientais brasileira impede que qualquer espécie animal seja introduzida no país sem parecer favorável do Ibama. No entanto, André Jean Deberdt avalia que a legislação ainda é deficiente. "Tem alguns pontos falhos, que podem ser melhorados, e normas que poderiam ser estabelecidas para melhorar o sistema preventivo de entrada e a implementação de mecanismos para evitar a proliferação das espécies que já estão no país. É preciso criar mecanismos legais para controlar as espécies invasoras".