Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Fazendinha Irmã Arlinda é uma casa de recuperação de dependentes químicos, fundada há 15 anos, em Janaúba, município com cerca de 62 mil habitantes do Norte de Minas Gerais. O centro tem capacidade para 10 internos e atende hoje 17 pessoas. A casa é de alvenaria, tem três quartos e um banheiro. Os quartos são pequenos e abafados, e os internos dormem em beliches com armação de tijolos.
Segundo o coordenador geral do projeto, Mozart Garcia Leão Júnior, o centro não recebe nenhum recurso do governo federal. "A parcela que a gente tem de ajuda que paga os monitores são R$ 750 que a prefeitura de Janaúba nos repassa", diz Mozart.
Ele conta que a Prefeitura de Espinosa (MG) ajuda o centro com a doação de alimentos. "Ele nos ajudam com o básico da alimentação: arroz, feijão, óleo", conta o coordenador. Mozart questiona o fato de a Fazendinha não estar enquadrada em nenhum programa do governo federal. "A gente faz aqui o papel do governo. Quando o interno vem para cá, se ele tem um problema de saúde, a gente é que tem que correr atrás de um médico."
Mozart destaca que a casa em que vivem os internos não tem estrutura para abrigar os 17 pacientes. "A situação é critica, a estrutura é muito precária", diz. Segundo ele, já existe um projeto montado para a construção de uma nova casa para 30 internos. "Eu acho que é obrigação do governo nos ajudar com isso, porque a gente está aqui ajudando a sociedade. Cada jovem que vem aqui e consegue vencer essa batalha do álcool e da droga, a gente colhe frutos lá fora."
O coordenador ressalta que a sociedade também pode ajudar em projetos como esse. "As pessoas podem vir conhecer o centro. Para quem está fora daqui, é fácil chamar os meninos de vagabundos, é o que mais a gente ouve. Mas é o contrário, são pessoas dóceis, que querem sair dessa vida de alcoolismo, e só com essa ajuda vão conseguir", diz.
Um dos monitores do centro, Márcio Juarez Messias, 29, já foi dependente químico. Por 14 anos, ele conta que usou drogas como maconha e cocaína. Márcio diz que conseguir largar o vício em um outro centro de recuperação, similar à Fazendinha. "O mais gratificante é estar trabalhando como monitor e ser um exemplo, passar o que eu vivi para essas pessoas que estão querendo ter uma vida nova", afirma.
O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, visitou a Fazendinha Irmã Arlinda. Segundo ele, é necessário um programa articulado entre vários ministérios para atuar em centros de recuperação de dependentes químicos. "É uma área que exige uma ação integrada que estamos consolidando. Tem uma dimensão do Ministério da Justiça, porque envolve a questão de entorpecentes, do tráfico; é uma ação também da Saúde, porque se trata de recuperação dos drogados. Vamos enfrentar mais esse desafio para que possamos dar um apoio mais efetivo a essas instituições", diz o ministro.
Ele diz que o ministério já possui algumas ações para atuar na prevenção do alcoolismo e do uso de drogas, como o programa Casas das Famílias, centros de assistência social existentes em vários municípios, onde são debatidos com as famílias carentes diversos assuntos, como a dependência química.
"Quando implantamos programas como o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), o Agente Jovem, as Casas das Famílias – que são espaços onde são discutidos problemas como alcoolismo e drogas –, há uma incidência positiva no sentido de prevenir e combater as drogas e o alcoolismo", destaca o ministro. Dados do ministério mostram que, até julho de 2005, foram investidos R$ 3,9 milhões em programas de assistência social em Janaúba. A estimativa é que, até o final do ano, o investimento seja de R$ 6,1 milhões.