Especial 4 – Em Três Marias, cooperativa e horta comunitária são "portas de saída" do Bolsa Família

26/09/2005 - 9h06

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Em Três Marias, município pobre do Norte de Minas Gerais, com aproximadamente 23 mil habitantes, o projeto do governo federal Compra Direta Local sustenta duas ações que garantem a geração de renda a famílias pobres do município.

A Prefeitura de Três Marias recebe anualmente do governo federal R$ 152,5 mil para a compra de parte da produção da Cooperativa Vitória das Marias e da Estância Familiar, uma horta comunitária em que trabalham 54 famílias de baixa renda. A produção é encaminhada a escolas, creches e asilos do município.

O projeto Compra Direta Local faz parte do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento. O objetivo do projeto é dar uma destinação à produção da agricultura familiar, visando ao desenvolvimento da economia local. Além dos agricultores familiares, o Compra Direta Local tem como público-alvo entidades sociais que disponibilizam alimentos para a população com insuficiente consumo alimentar.

As famílias da horta comunitária produzem legumes e verduras sem agrotóxicos em um terreno cedido pela prefeitura, que oferece também semente e água aos agricultores. Maria Dulcineide Mendes, de 40 anos, tem dois filhos e vive com a renda gerada pela venda da produção. "Eu planto de tudo: cenoura, alface, beterraba, couve, cebolinha, salsinha. Antes, vivia com muita dificuldade, porque eu estava desempregada", diz. A colheita gera uma renda mensal que varia entre R$ 150 e R$ 300, de acordo com a produção das famílias.

Maria explica que os legumes que não são encaminhados às instituições cadastradas no programa Compra Direta Local são vendidos à população de Três Marias. "O que a gente não entrega nas escolas, a gente vende na rua. Os fregueses gostam muito das verduras daqui", conta.

Na Cooperativa Vitória das Marias, 37 mulheres fabricam biscoitos, doces, farinha e leite de soja e ganham em média R$ 260 por mês cada. A presidente da cooperativa, Marília Aparecida Gonçalves, explica que a idéia de montar o negócio surgiu de um ex-prefeito, depois que várias mulheres foram à prefeitura pedir ajuda financeira.

Ela ressalta que, na cooperativa, essas mulheres resgataram a auto-estima, porque se sentem donas do próprio negócio. "Muitas mulheres agora têm como ajudar o esposo em casa. Algumas delas sustentam a casa com o que ganham aqui. Várias não tinham trabalho e precisavam da ajuda de todos. E agora sabem que o que ganham aqui podem pôr em casa. Foi uma grande vitória. A auto-estima delas foi levantada com isso aqui", conta Marília.

Petrolina Cardoso, 33, diz que antes de entrar na cooperativa não sabia fazer biscoitos. Hoje, se sente orgulhosa por ajudar em casa. "Eu pago as minhas contas, compro roupa dos meus filhos. Para muita gente que antes não tinha trabalho e hoje está aqui, é uma grande vitória", destaca.

As mulheres contaram ainda com a ajuda de Denise Maria Campelo, que tinha uma fábrica de biscoitos e passou as máquinas e a experiência na atividade para a cooperativa. "Muita gente não acredita que a pessoa tenha capacidade de estar passando uma fábrica inteirinha de biscoito e estar doando ela para uma entidade. E foi o que eu fiz. Fiz para ajudar e me sinto muito realizada com isso", conta.

O Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, que visitou a cooperativa e a horta comunitária, elogia os programas. "São programas importantes porque são as ações complementares, ou as chamadas portas de saída, que nós estamos construindo no Bolsa Família. São programas que geram trabalho, renda, que resgatam a auto-estima e a iniciativa das pessoas, das famílias e das comunidades pobres", avalia o ministro.

Segundo dados do ministério, das 91 famílias inseridas no programa Compra Direta Local, pelo menos 56 são beneficiárias do Bolsa Família e de programas de transferência de renda remanescentes, como o Bolsa Escola e o Auxílio Gás. Em Três Marias, 1,4 mil famílias recebem o benefício do Bolsa Família. O Bolsa Escola beneficia 257 famílias do município, e o Auxílio Gás, 660 famílias. Por mês, o ministério repassa, pelos programas de transferência de renda, R$ 95 mil à população de baixa renda de Três Marias.