Projeto de inclusão pela dança comemora dez anos e realiza sonhos de crianças carentes do Rio

18/09/2005 - 9h38

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Rio - O projeto Dançando para não Dançar, que promove a inclusão social e incentiva a participação cultural através do ensino de balé clássico a 450 crianças em 11 comunidades carentes do Rio de Janeiro, comemora duas vitórias: dez anos de fundação e o embarque, amanhã (19), para o exterior, da décima bailarina formada em suas salas de aula.

Desta vez, quem deixa o Brasil em busca da realização de novos sonhos é Daiane da Silva, de 13 anos. A menina, que é moradora da Rocinha, vai para Berlim, na Alemanha, fazer um curso de especialização de cinco anos na Staatliche Ballettschule, escola de dança do governo alemão.

Daiane entrou no projeto em 1992, depois de assistir a uma apresentação do balé Quebra-Nozes, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. "Foi então que eu me apaixonei pela dança", disse ela. Hoje, depois de três anos de dedicação, ela se sente pronta para alçar novos vôos. "A dança mudou a minha vida, me deu mais responsabilidade. Vou sentir saudade da minha família, mas quero resolver minha vida por lá. Primeiro eu vou pensar em realizar o meu sonho, depois eu penso no resto", afirmou.

A família apóia. "Vou sentir saudade da minha filha, mas sei que vai ser bom para ela. Desde o início estive ao seu lado. Não fico em paz pensando nela aqui no morro sozinha durante o dia. Lá, ela estará trabalhando e crescendo. Ela vai vencer", disse a mãe da menina, Antônia da Silva, que trabalha como babá e só folga a cada 15 dias.

O projeto, patrocinado pela Petrobrás, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já enviou crianças para países com tradição no balé como Cuba, Áustria e Alemanha. Criado em 1995 por Thereza Aguilar, que foi bailarina do Balé Nacional de Cuba, o projeto tem o objetivo de beneficiar crianças carentes, órfãs de pai e mãe. "Eu ficava impressionada com o Balé de Cuba e quando eu voltei ao Brasil pensei: preciso fazer algo pelo meu país também", contou.

Thereza acredita que esse é a estadia em Berlim é um passo importante para a profissionalização de Daiane. "A perspectiva é que ela faça uma carreira internacional se seguir os mesmos passos de Bárbara Freire, também minha aluna, que completou os cinco anos de especialização em Berlim e hoje é solista da Companhia Volkstheater, da cidade de Rostock, também na
Alemanha", afirmou.

Marcele Monteiro, aluna do projeto, fez um estágio de seis meses na mesma escola para onde Daiane vai, e destacou a importância da experiência. "É bom porque a gente não fica só num mundinho fechado. O clima, a cultura e o próprio balé são diferentes. A gente amadurece muito", disse ela. Além de aprender balé, as crianças do "Dançando para não Dançar" têm aula de prática e teoria musicais. Segundo Thereza, "isso ajuda o desempenho na dança". Elas também recebem suporte sócio-educativo com atendimento médico, dentário, psicológico e de assistência social.

Como extensão do projeto de atendimento a crianças, foi criado no ano passado o Dançando em Família. Por esse projeto, 20 mães das crianças que aprendem balé têm a oportunidade de voltar para a sala de aula e completar seus estudos. Algumas são alfabetizadas, outras concluem o ensino médio. Há, ainda, as que fazem pré-vestibular.

"Percebemos a necessidade de desenvolver projetos que englobem toda a família, o que ajuda na auto-estima dessas mães, que têm que cuidar de seus filhos e, muitas vezes, trabalhar", disse a criadora do projeto. Para garantir a freqüência no Dançando com a Família, as mães recebem vale-transporte e cesta básica.