Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio - Usado em situações especiais como confrontos com traficantes e rebeliões em presídios, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) ocupa a Rocinha desde o último dia 22 de julho e é o principal alvo de reclamações dos moradores da favela. Alvo de denúncias de moradores relativas a abuso de autoridade e invasões arbitrárias de casas, o uso da unidade de elite na ocupação não é consenso nem mesmo dentro do governo do estado.
Secretário estadual de Direitos Humanos, o coronel da PM Jorge da Silva é um dos que questionam o uso do batalhão na operação. Para ele, o uso do Bope na Rocinha é uma resposta do governo do estado às pressões das classes mais altas, que demandam ações violentas.
"Você está numa sociedade que tem um paradigma belicista. Você pode observar que há sempre uma demanda: 'tem que chamar o exército, tem que chamar a Força Nacional', diz ele. "Numa sociedade em que você vê as pessoas sempre demandando a luta contra o crime como se tratasse de uma guerra contra inimigos, como se fosse um país contra o outro, você tem uma legitimação de medidas dessa natureza."
O comandante do Bope, tenente-coronel Fernando Príncipe, refuta as críticas à unidade. Ele diz que o batalhão está preparado para atuar na ocupação da Rocinha e que as tarefas executadas na favela estariam dentro das atribuições do grupamento. Até o momento, segundo ele, não há qualquer informação concreta sobre as supostas agressões sofridas por moradores.
Príncipe admite que a simples presença dos policiais na favela pode causar transtornos aos moradores. "Não é nossa intenção atingi-los. Mas a nossa própria presença naquele ambiente por algum motivo já causa algum tipo de transtorno, porque eles podem ficar mais preocupados", diz ele.
O comandante também lembra que o risco de atingir inocentes durante um confronto com os traficantes é real: "Eventualmente pode ocorrer uma troca de tiros entre os policiais militares e os delinqüentes. E, eventualmente, com os moradores ali no meio, há um motivo de preocupação".
Na opinião de Príncipe, a onda de denúncias faz parte de uma campanha de quem estaria interessado em que o tráfico de drogas no morro voltasse à normalidade. Essas pessoas, segundo Príncipe, seriam os próprios bandidos, alguns líderes comunitários e comerciantes que lucram indiretamente com o narcotráfico. "Se o comerciante vende mais cachorro-quente e refrigerante ou pizza, naqueles dias em que há mais afluência de visitantes na favela para consumo de drogas e começa a vender menos, naturalmente, não está interessado na presença da polícia", diz o coronel.