Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio – Para o jornalista Júlio Ludemir, 45, a Rocinha ainda está distante de uma das "maiores conquistas" da democracia brasileira, o tratamento respeitoso da polícia com os cidadãos. "Se a Rocinha quer ser um bairro, vai ter que levar para lá uma das maiores conquistas dos últimos 20 anos do asfalto, que é ter uma polícia que a respeite", diz ele, que morou na Rocinha durante seis meses, entre 2002 e 2003, com o objetivo de fazer um estudo sobre a favela.
"Quando eu olho para a polícia hoje, não olho mais com aquele temor que eu olhava durante a ditadura militar. E isso foi fruto não de um processo político de eliminação e afastamento dessa polícia e sim de associação a essa polícia para combatermos o inimigo maior. O inimigo maior não é o Bope (unidade de elite da polícia), o inimigo é o tráfico de drogas", argumenta.
Por medo de ser morto, Ludemir teve que fugir da comunidade depois de ter denunciado supostas ligações do tráfico de drogas com diversos segmentos da sociedade organizada local, inclusive a polícia. A denúncia de Júlio Ludemir resultou no livro Sorria, Você está na Rocinha. Hoje, o jornalista, que não pode mais voltar à favela, vive escondido.
Ludemir diz que somente com o apoio da população à ação da polícia é que, em longo prazo, o narcotráfico poderá ser combatido. Mesmo defendendo a presença policial nas ruas da favela, ele chama a atenção para a existência de abusos e da corrupção entre os policiais, práticas que, segundo ele, têm que ser combatidas para que a luta contra o comércio de drogas na comunidade seja eficaz.
"O que tem que se discutir é qual é a polícia que vai para dentro da favela. Não é tirar a polícia de dentro da favela. A guerra só vai ser resolvida no momento em que tiver, não uma ocupação, mas um trabalho constante, permanente. Não é uma ocupação de uma semana, duas semanas ou um ano. A gente tem que se livrar de uma cultura do tráfico herdada de 30 anos. Se for uma coisa provisória, para pegar o Bem-te-vi (atual chefe do tráfico que a polícia tenta capturar), ele já tem substituto", afirma.