Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reconheceu na semana passada a impossibilidade de aplicar o Censo Agropecuário este ano. Realizado a cada cinco anos, o levantamento não é feito desde 1995 por falta de recursos. O último Censo trouxe dados sobre utilização de terras, situação dos produtores, uso de assistência técnica, máquinas e veículos existentes, valores de investimentos, além de números sobre rebanhos e produção.
Especialistas e agricultores estão preocupados com a desatualização das informações disponíveis na última década. Eles dizem que o cancelamento do censo traz prejuízos para a elaboração de política públicas e até mesmo negociações internacionais.
O vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilman Viana Rodrigues, afirma que a falta de informações sobre área plantada e número de propriedades, por exemplo, pode dificultar a aquisição de empréstimos junto a bancos e ao próprio governo federal. Os planos de investimentos estariam seriamente comprometidos uma vez que as insituições responsáveis pelos créditos utilizam, como base, números já superados.
"O cancelamento deste Censo é um descaso com a economia do país, não só com a agricultura. É uma barbaridade, em tempos de velocidade da informação e informática, deixar um banco de dados desatualizado", critica o vice-presidente da CNA. "A falta dos dados é ruim inclusive para a política externa. Vamos negociar lá fora sem um mapa real da agropecuária brasileira. Isso causa estranhamento dos investidores e queda na credibilidade."
Pelos cálculos do IBGE, para realizar o Censo Agropecuário são necessários R$ 420 milhões. Parte do recurso está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2006. Ainda assim, o presidente o Instituto, Eduardo Pereira Nunes, diz que a conversão do projeto em realidade depende de "disponibilidade orçamentária adicional".
"Ainda não há hoje recursos suficientes para viabilizar o Censo Agropecuário, mas tendo em vista o interesse pela sua realização, o governo incluiu o censo na LDO e nós trabalharemos ao longo do ano de 2006 para obtenção desses recursos", prevê Nunes. Segundo ele, em troca dos recursos, o governo solicitou ao IBGE que repense o projeto como um todo, buscando uma alternativa do ponto de vista orçamentário mais apropriada à situação do país.
A preparação desse novo modelo demandará em torno de dez meses de estudos. A idéia é realizar o novo Censo Agropecuário em fevereiro de 2007, com um desenho que será definido agora, englobando visitas a campo pela equipe de recenseadores do Instituto a cinco milhões de propriedades agrícolas para entrevistas referentes a tudo que elas produziram no ano de 2006. A conclusão do novo modelo deverá passar pela aprovação do conselho consultivo do IBGE, formado por técnicos da instituição e especialistas de fora convidados.