CNA diz que muitos produtores não serão beneficiados por acordo que prorroga pagamento de dívidas

19/08/2005 - 8h22

Renata Franke
Da Agência Brasil

Brasília - Muitos produtores brasileiros tiveram que comercializar seus produtos a preços muito baixos para atender às parcelas já vencidas das dívidas dos empréstimos de custeio e agora não serão beneficiados pelo acordo que prorroga os vencimentos. A afirmação foi feita pelo vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Carlos Sperotto, em entrevista à Radiobrás.

"No caso do arroz, por exemplo, o produtor está comercializando o produto por R$ 18, R$ 19 a saca de 50 kg, sendo que o custo de produção é R$ 29. No momento em que o produtor tenha que comercializar com estes diferenciais, não tenha dúvida de que ele contabiliza o prejuízo e aí está um novo endividamento massivamente instalado no setor".

O acordo feito na quarta-feira (17) pelos ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, e da Fazenda, Antonio Palocci, determina que as parcelas vencidas em junho e julho e a vencer em agosto deste ano poderão ser pagas em março e abril de 2006. A prorrogação só não beneficiará os produtores de estados onde vigoram medidas de apoio às lavouras atingidas pela seca, como Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina.

"Essas atitudes deveriam ser tratadas de outra forma, mas ainda vão pegar um percentual de produtores que não comercializaram o produto e que já estavam inadimplentes e trazer a estes um benefício e uma flexibilização na exigência de oferta de produtos com preços aviltados", acredita Sperotto.

Os produtores de arroz do Rio Grande do Sul também poderão liquidar seus débitos em março e abril de 2006. Além do arroz, a prorrogação vale para os empréstimos de custeio das culturas de soja, algodão, milho, trigo e sorgo.

Segundo nota do Ministério da Agricultura, o ministro Roberto Rodrigues considera a prorrogação das dívidas de custeio mais um avanço nas ações para reduzir os efeitos da crise da agricultura, em decorrência de fatores como valorização cambial, elevação de custos, problemas climáticos e baixo preço de comercialização de alguns produtos. O acordo ainda deverá ser aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).