Associação testa alternativas sustentáveis de geração de renda na várzea amazônia

19/08/2005 - 17h01

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - Cerca de 2.800 ribeirinhos que vivem em 19 comunidades do Paraná do Parintins, em Parintins, no Amazonas, estão envolvidos no trabalho de proteção ambiental e de experimentação de alternativas sustentáveis de geração de renda desenvolvidos pelo Grupo Ambiental Natureza Viva (Granav). Juridicamente, a associação surgiu em 1992, mas ela é fruto de uma mobilização comunitária iniciada na década de 70.

Em entrevista ao programa Ponto de Encontro, da Rádio Nacional da Amazônia, o coordenador do Granav, Eraldo Albuquerque, lembrou que nessa época, diante da necessidade de organizar a comunidade para a defesa dos lagos, invadidos por pescadores comerciais, a população "resistia, indo para a boca do lago, fazia vigília, passava noites lá". Alguns moradores chegaram a ser presos, acrescentou, porque o poder público em Parintins "não reconhecia essa atitude como uma ação em benefício do meio ambiente".

Em 2003, com apoio do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama), o Granav obteve cerca de R$ 63 mil da cooperação internacional alemã para financiar o projeto Sistema Integrado de Proteção Terra e Água. Até o primeiro semestre do próximo ano, cinco atividades de geração de renda estão sendo testadas nas comunidades onde a entidade atua. "Uma delas é o manejo de lagos, que a gente já vinha fazendo. Outra são atividades não-agrícola: a criação de abelhas sem ferrão e uma experiência com criação de capivaras. Nós temos o que a gente chamou de agroflorestação, que é a construção de um viveiro para produção de mudas nativas. E por fim há a atividade agrícola: o plantio de grãos e de hortaliças", explicou Eraldo Albuquerque.

Como experiência de sucesso, ele destacou a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). "No começo, tínhamos 39 caixas de colméia tradicionais. Hoje são três meliponários construídos, com um total de 125 caixas racionais. Estamos saindo do processo de multiplicação das colméias para entrar na etapa de produção do mel", revelou.

As chamadas caixas racionais são construídas segundo a organização natural das colméias: na parte de baixo está a lixeira, seguida do ninho – onde ficam os ovos e as larvas – e do depósito de mel.

Das atividades desenvolvidas, apenas a horticultura já está gerando renda, embora o coordenador reconheça que falta organizar o escoamento da produção para atender à demanda local. Os moradores do Paraná do Parintins ainda vivem principalmente da pesca e do roçado familiar, com pouca interação com o mercado local. "Nosso grande resultado até agora é o interesse demonstrado por outras comunidades do entorno, que se sentem motivadas a se organizar e a buscar projetos semelhantes. Quando o finaciamento do ProVárzea acabar, as ações terão continuidade, porque ampliamos nossas parcerias", contou.

Eraldo Albuquerque também comemorou o interesse do Banco da Amazônia em financiar as atividades desenvolvidas, além do apoio da prefeitura. A transformação das iniciativas promissoras em políticas públicas é o bjetivo do ProVárzea/Ibama, que faz parte do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.