Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A rede mundial da internet deverá se tornar em breve uma ferramenta de negócios para o povo Baniwa, habitante das terras indígenas do alto do Rio Negro, no noroeste da Amazônia. Produtores tradicionais de um tipo de cestaria trançada com a fibra de arumã, os índios vão poder comercializar o produto por meio de uma página na internet, em fase final de elaboração, segundo informações do Instituto SocioAmbiental (ISA).
A venda será feita por encomenda, para não gerar pressão para o aumento da produção entre os indígenas. "A idéia é que as vendas online não gerem pressão indevida sobre a cadeia de abastecimento da cestaria, ou seja, que existam mecanismos de controle da demanda, como, por exemplo, um sistema de encomendas, sujeitas a aprovação", explica a responsável pelo Programa Rio Negro, do ISA, Natalie Unterstell.
A venda por meio eletrônico é apenas um eixo das ações do projeto Arte Baniwa, desenvolvido pela Organização Indígena do rio Içana (OIBI), em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e o Instituto Socioambiental (ISA). O projeto recebe apoio do programa Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), do Ministério das Comunicações, que disponibiliza conexão via satélite.
Por meio do Arte Baniwa, os indígenas firmaram no ano de 2000 uma parceria com a cadeia de lojas de móveis e decoração Tok & Stok. Desde então os índios vendem a cestaria para a empresa, que atualmente paga R$ 150 por uma dúzia de cestas. De acordo com o ISA, o valor corresponde a 70% do preço cobrado nas lojas da Tok & Stok.
Antes da parceria, segundo informações do ISA, o mesmo produto era negociado em sistema de escambo, sendo trocado por roupas usadas ou mercadorias industrializadas, como pilhas, açúcar, sal, anzol, cartuchos etc. Os comerciantes iam até as comunidades realizar as trocas e a mesma dúzia de cestas era repassada pelo equivalente a R$ 18.
Ainda segundo o ISA, desde 2000, quando teve início a parceria dos índios com a Tok & Sotk, já foram vendidas mais de duas mil dúzias da cestaria Baniwa. O projeto também já foi reconhecido várias vezes como modelo de negócios, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ashoka-McKinsey, Fundação Ford, Banco Mundial e pelo Ministério do Meio Ambiente.
Os Baniwa vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela, distribuído em 93 povoados, entre comunidades e sítios. Segundo estimativas do ISA, em 2000 havia um total aproximado de 15 mil índios dessa etnia na região, cerca de 4.026 habitando o lado brasileiro da fronteira. No Brasil, os povoados estão localizados no baixo e médio rio Içana, e nos rios Cubate, Cuiari e Aiari. Os Baniwa também estão presentes em comunidades do Alto Rio Negro e nas cidades de São Gabriel, Santa Isabel e Barcelos.
Na escola Pamáali, que fica na comunidade Tucumã, em São Gabriel da Cachoeira, os Baniwa estão conectados à internet por meio do Gesac. Presente em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano, o programa fornece conexão à internet, em alta velocidade e via satélite, e já atende a 4 milhões de pessoas em 3.200 pontos de presença espalhados pelo país. Segundo Antônio Albuquerque, que dirigiu o programa até a semana passada, outros 1.200 pontos serão incorporados ao programa até dezembro, ampliando o número de pontos de presença para 4.400 ainda este ano.
Dos pontos de presença do Gesac, segundo ele, 75% ou 2.400 estão instalados em escolas municipais e estaduais, 400 em postos militares, 100 no Programa Fome Zero e 300 em associações, sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs) e telecentros. São mais de 18 mil computadores conectados. Dessas máquinas, 4.500 adotam o software livre, número que, segundo Albuquerque, deve chegar a 11 mil até o final do ano.
Albuquerque explica que o custo total do programa Gesac, para um período de 30 meses, é de R$ 110 milhões. Desse total, R$ 12 milhões foram investidos na compra de softwares livres. "É a maior compra de serviços em software livre do governo federal até o momento em toda a história desse país", explica.