Ribeirinhos do Amazonas e do Pará se organizam para cuidar de filhotes de tartarugas e jabutis

12/08/2005 - 12h23

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - Aproximadamente 459,3 mil filhotes de tartaruga, jabutis e tracajás, cujos ovos foram transplantados para áreas protegidas, já foram devolvidos à natureza pelo projeto Pé-de-Pincha desde 1999. A iniciativa começou no município de Terra Santa, no Pará, e hoje atinge outros seis municípios do Baixo e Médio Solimões: Parintins, Barreirinha, Boa Vista do Ramos e Nhamundá, no Amazonas; Oriximiná e Juriti, no Pará. Setenta e duas comunidades ribeirinhas, cerca de 3.600 pessoas, estão envolvidas diretamente no projeto desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com associações comunitárias e prefeituras.

Os números atestam o crescimento do projeto: em 1999, foram 24 mil filhotes soltos nas praias de origem; em 2000, 29,5 mil, e neste ano, 110 mil. A soltura ocorre entre fevereiro e março, com grandes festas nas comunidades. "Para se ter uma idéia da grandeza, o Amazonas produz cerca de 1,5 milhão de filhotes de quelônios em unidades de conservação, por ano. Mas são locais isolados, com grandes populações desses animais. Na região onde atuamos, essas populações diminuíram bastante, então soltar 100 mil filhotes é um número expressivo. Os moradores comentam com a gente que encontram tracajás onde eles haviam desaparecido", explica Paulo de Andrade, coordenador do Pé-de-Pincha, em entrevista à Rádio Nacional (Amazônia).

O programa surgiu a partir da iniciativa dos próprios moradores de Terra Santa, que procuraram o Ibama e a universidade para saberem se podiam retirar os ninhos dos quelônios e levá-los a uma área protegida - o transporte de ovos e o manejo não autorizado de animais silvestres é crime. Os voluntários do projeto procuram os ninhos nas praias em outubro e novembro, para desenterrar os ovos e enterrar de novo em locais planos, sem risco de inundações e protegidos por telas. Os ovos ficam nas chocadeiras durante 45 a 60 dias. Quando os filhotes nascem, permanecem por dois meses no "berçário", até que seus cascos endureçam e suas chances de sobrevivência aumentem.

Em outubro do ano passado, o Pé-de-Pincha ganhou o apoio do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama), um subprograma do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e financiado com verba da cooperação internacional. Até o início de 2007, a parceria possibilitará experiências de manejo de quelônios com fins comerciais, capacitação de professores da rede pública em educação ambiental e organização comunitária para buscar alternativas de renda, como o ecoturismo.

"Já temos 20 unidades testando métodos de criação de quelônios. Há dois mil animais que hojem pesam cerca de um quilo, mas só podem ser abatidos quando atingirem pelo menos um quilo e meio. Em dois anos, teremos seis mil quelônios criados em cativeiro – e metade deles estará pronta para o abate", esclareceu Paulo. A carne e os ovos de tartarugas, jabutis e tracajá são muito apreciadas na Amazônia; além disso, o artesanato aproveita a carapaça como matéria-prima e a indústria de medicamentos e cosméticos usa os ovos e a banhas desses animais.