Jefferson diz que distribuiu os R$ 4 milhões que teria recebido do PT, mas não revela a quem

04/08/2005 - 21h13

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) não revelou, durante depoimento à CPI da Compra de Votos ocorrido hoje (4), o destino dos R$ 4 milhões que teria recebido do PT para o financiamento de campanhas eleitorais em 2002. O dinheiro não foi declarado à Justiça Eleitoral. "A distribuição, eu fiz. Só não digo a quem", afirmou.

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, Jefferson havia afirmado que tinha se apropriado dos recursos sem deixar clara a distribuição do dinheiro. Segundo o deputado, o seu futuro político está nas mãos do PT. "Se acertarmos os caixas de nossos partidos, encerra-se o problema. É só retificarmos (à Justiça Eleitoral)", disse.

O deputado reiterou a denúncia de que o publicitário Marcos Valério e o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, estiveram em Portugal para negociar com a empresa Portugal Telecom recursos para o pagamento de dívidas entre o PT e o PTB.

Jefferson afirmou que Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB, assim como Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério na empresa DNA Propaganda, também participaram das negociações em Portugal. "Eu tenho as passagens do Palmieri lá no PTB e posso comprovar a viagem. Ela ocorreu nos dias 24 a 26 de janeiro", afirmou.

O deputado também acusou o publicitário Marcos Valério de não operar apenas contratos de publicidade para financiar empréstimos ao PT. "Ele se envolve com todos os tipos de negócios, desde linhas da Eletronorte, passando pela transferência de recursos do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e a Portugal Telecom", disse. Segundo Jefferson, as empresas eram utilizadas por Valério para reunir recursos a serem repassados ao PT via caixa dois.

Ao ser questionado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre o relacionamento com o ex-diretor de Administração dos Correios, Maurício Marinho, Jefferson se exaltou. Ele vinha alegando não manter relações com o ex-diretor. No entanto, o senador apresentou uma reportagem que narra um encontro entre Jefferson e Marinho no município de Aquidauana (MS), na região do Pantanal Matogrossense. A cópia da reportagem foi encaminhada a Jefferson, que a rasgou.

Depois disso, o vice-presidente da Comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), o advertiu: "Vossa Excelência não tem autoridade para rasgar o documento. Essa atitude não é condizente com o trabalho que está sendo realizado". O presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), disse que não vai deixar o incidente prejudicar as investigações. "O episódio vai ser apreciado pela própria CPI", afirmou.