Especial 1 - Lula inaugurará usina na região onde biodiesel quer ser combustível da inclusão social

04/08/2005 - 10h57

Spensy Pimentel
Enviado especial

Floriano (PI) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve inaugurar hoje (4) em Floriano (244 km ao sul de Teresina) a primeira usina de biodiesel do país a operar em escala comercial na área do semi-árido nordestino. Outras empresas já têm autorização do governo para operar com esse tipo de produção, nas regiões Sul, Norte, Sudeste e Centro-Oeste, mas a unidade em Floriano é a única até agora a fazê-lo em grande escala na região onde o governo espera que o projeto beneficie 80% das famílias de agricultores envolvidas com o biodiesel em todo o país.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel usado no país deve proporcionar em três anos a incorporação de 250 mil propriedades da agricultura familiar a essa cadeia produtiva. Destas, 200 mil estão no Nordeste, região onde representam 10% de todas as pequenas propriedades rurais. "Há uma priorização para a agricultura familiar, especialmente a nordestina. Na região, o programa pode puxar um processo muito forte de inclusão social. O cultivo da mamona associada ao biodiesel é uma possibilidade concreta de ter uma produção que convive com a seca e gera renda", explica Arnoldo de Campos, coordenador de Geração de Renda e Agregação de Valor no MDA.

A mistura de 2% de biodiesel ao diesel, formando o chamado "B-2", é atualmente autorizada pelo governo, por meio de decreto publicado em dezembro do ano passado. Até 2008, essa mistura deve se tornar obrigatória – em 2013, a porcentagem obrigatória passará a ser de 5%, formando o chamado B-5. O objetivo é reduzir a emissão de poluição e diminuir a dependência de diesel importado, além de progressivamente aumentar a participação de combustíveis renováveis na matriz energética brasileira – já que o esgotamento das reservas conhecidas de petróleo do planeta é eminente.

A Brasil Ecodiesel, empresa responsável pelo projeto no Piauí, operará em sistema de parceria com agricultores familiares de todo o Nordeste. Por meio das federações de trabalhadores na agricultura (Fetags) e sindicatos rurais, a empresa diz já ter fechado contrato com 20 mil agricultores.

Para se ter uma idéia da extensão do projeto no Piauí: a fábrica envolve investimentos de R$ 10 milhões. Ao todo, somando-se os recursos repassados à agricultura familiar para garantir o fornecimento de mamona e a instalação de uma esmagadora do produto em Crateús (CE), o negócio chega aos R$ 45 milhões, dos quais menos de 20%, cerca de R$ 7 milhões, foram financiados por instituições públicas, segundo o gerente da usina, Ricardo Alonso. A fábrica em Floriano (PI) tem capacidade de produzir 90 mil litros de biodiesel por dia.

Até 2008, a Brasil Ecodiesel planeja ser responsável por 40% do biodiesel fornecido para o mercado nacional potencial, segundo dados do MDA, de pelo menos 800 milhões de litros por ano gerado pela adição de 2% de biodiesel ao diesel comum, conforme autorizado pelo governo federal no fim do ano passado. Para atingir essa meta, a empresa espera construir mais quatro usinas em outras regiões do país. "Ao todo, o decreto do governo abriu um mercado potencial para que existam pelo menos 40 usinas iguais a essa em todo o país", diz Alonso.

No Piauí, além de fazer contratos com quase 3 mil agricultores independentes, a Brasil Ecodiesel também tem um projeto numa fazenda de cerca de 50 mil hectares cedida pelo estado em troca da assinatura de contratos para a doação de áreas a famílias de agricultores, no município de Canto do Buriti. As famílias receberão a escritura de lotes de cerca de 8 a 10 hectares, incluindo uma casa de 44 m² e infra-estrutura de energia, saneamento e transporte, se participarem da produção durante dez anos.

Só no Piauí, na região de Floriano e na Fazenda Santa Clara, em Canto do Buriti, o projeto da Brasil Ecodiesel deve gerar 70 empregos na fábrica e mais de 300 no beneficiamento da mamona. Segundo cálculo do MDA, o contrato com 20 mil agricultores familiares possibilita a criação ou manutenção de 40 mil postos de trabalho.