Biblioteca Arca das Letras pode viabilizar formação de leitor em comunidades rurais e quilombolas

04/08/2005 - 14h13

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Integrante da comunidade quilombola de Serra Talhada, a estudante de Pedagogia Gilvaneide Ferreira vai realizar um de seus sonhos com a chegada do programa de biblioteca rural Arca das Letras em sua comunidade. "Gosto de ler muito. Eu já sonhava em formar uma biblioteca na minha casa", contou Gilvaneide. O programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário vai inaugurar esta semana 105 bibliotecas em comunidades rurais e quilombolas da Paraíba. A biblioteca de Serra Talhada, no município de Santa Luzia (PB), funcionará na casa da estudante.

Como parte do programa, Gilvaneide recebeu capacitação para se tornar uma agente de leitura, responsável pelo empréstimo dos livros e por incentivar a leitura na população. "É uma capacitação muito proveitosa. É um benefício não só para as crianças, jovens e adultos que vão ser orientados sobre a leitura como também para quem é parceiro que vai ter mais pé-no-chão para repassar esse conhecimento, mostrar o caminho da leitura", disse a futura bibliotecária.

De acordo com Gilvaneide, cerca de 200 pessoas vivem na comunidade. Mas a biblioteca também deverá ser freqüentada por outras áreas rurais vizinhas. A estimativa da estudante é de que o público chegue a 450 pessoas.

Segundo a coordenadora do programa, Cleide Soares, a implantação da biblioteca conta com a participação intensa das comunidades locais. "Elas precisam ser consultadas para indicar os livros que têm interesse em receber, indicar os assuntos, escolher o local onde vai funcionar a biblioteca e também indicar os agentes de leitura", explicou a coordenadora.

Cleide Soares disse que o programa pretende dar condições culturais e educativas aos pequenos agricultores e aos quilombolas rurais. "O ministério tem essa ação cultural porque nós entendemos que o programa da reforma agrária precisa pensar também a questão da educação, da cultura, da preservação ambiental, e não apenas o acesso à terra", afirmou.

Para a coordenadora, a instalação de uma biblioteca na própria comunidade facilita o acesso aos livros pelos quilombolas e pequenos agricultores. "As pessoas não precisam se deslocar para as áreas urbanas para fazer uma pesquisa escolar, por exemplo, ou tirar uma dúvida em relação à sua produção local", disse.

A coordenadora destaca também a importância da parceria das prefeituras, voluntários e de outros órgãos do governo federal. O custo para a fabricação da chamada arca – móvel de madeira – é de cerca de R$ 200. Elas são feitas por presos de penitenciárias de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. E os livros, obtidos através de doações de estudantes, órgãos públicos e editoras. Sem essa contribuição, Cleide Soares disse que cada arca custaria R$ 7.900, incluindo a compra de livros.

As novas 105 bibliotecas vão beneficiar 10.290 mil famílias. Já foram implantadas 899 bibliotecas no país e, ainda, três bibliotecas no Timor Leste e uma em Cuba através de projeto de cooperação solidária. Segundo Cleide Soares, a meta é que outras 600 bibliotecas sejam implantadas até o final do ano. "As prefeituras que se dispuserem a fazer suas arcas no próprio município a gente pode aumentar o número de bibliotecas", informou Cleide.