Pecuaristas dizem temer que preço baixo reduza exportações de carne

03/08/2005 - 19h59

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A queda no preço do boi gordo pago ao produtor pode resultar na redução do rebanho bovino e no ritmo de crescimento da pecuária, segundo avaliação do presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira.

A pecuária vinha alcançando, nos últimos anos, média anual de 3% de crescimento. O preço do boi gordo, segundo estudo da CNA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), caiu 11,7% no primeiro semestre. Se a situação persistir, pode afetar as exportações de carne bovina, a médio prazo, calcula Nogueira. O Brasil ocupa o posto de maior exportador do produto há dois anos.

O produtor também foi afetado pela alta dos custos operacionais, de 5,04% no mesmo período. Com isso, conforme explica Nogueira, passou a abater muito mais fêmeas do que o usual. A média brasileira de abate de fêmeas é de 23% do rebanho, mas neste ano já ultrapassa os 40%.

O rebanho nacional é de aproximadamente 200 milhões de cabeças e 77,8% do total estão nos estados pesquisados – Goiás, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia e São Paulo. Para Nogueira, ainda não é possível dizer que haverá queda na produção de carne bovina neste ano, mas ele prevê pelo menos estagnação no ritmo de crescimento do setor. "Se vinha crescendo de 3% a 5%, ao ano, certamente, isso não se repetirá em 2005", afirmou.

Na avaliação de Nogueira, os preços do último semestre reduziram a renda dos produtores e muitos deles deixaram de investir em tecnologias como o melhoramento genético, na recuperação de pastagens e de cercas. "Isso poderá influenciar negativamente no mercado como um todo, na venda de insumos, de veículos, por exemplo", previu. A queda no índice de nascimento de bezerros e na velocidade de engorda do rebanho também é apontada como conseqüência.

Outro estudo do Cepea, encomendado pela CNA, mostra que de janeiro de 2003 a junho de 2005 o preço do boi pago ao produtor caiu 6,18%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) da carne subiu 10,41%. "Ou seja, o consumidor não foi beneficiado", concluiu. No período, foram as seguintes as altas no preço dos cortes de carne: cupim, 8,10%; contra-filé 7,20%; filé mignon, 5,79%; alcatra, 10,29%; acém, 10,98%; peito, 8,71% e costela, 7,72%.