Luta por salvaguardas contra a China une patrões e trabalhadores têxteis paulistas

31/07/2005 - 8h10

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Patrões e empregados do setor têxtil paulista, que representa 40% da produção do país, estão unidos pela urgência da adoção de salvaguardas contra a entrada de produtos têxteis e de confecções provenientes da China. Segundo o presidente do Sindicato dos Têxteis de São Paulo, Sérgio Marques, os trabalhadores e os empresários formaram uma comissão para negociar com o governo uma adoção rápida das salvaguardas.

Marques disse que tanto os empregados quanto os patrões não têm a intenção de "fechar as fronteiras" para a China, mas "ter uma concorrência leal". Ele lembrou que a idéia de que os produtos chineses são de qualidade inferior é passado. "Quando abriu o mercado (nacional), tínhamos o discurso de que o produto chinês era de má qualidade. Agora isso não é mais verdade. Os produtos deles são de tão boa qualidade quanto os nossos e o parque industrial chinês foi um dos que receberam os maiores recursos ultimamente no mundo", disse. Ele ressaltou, entretanto, que as informações que teve dão conta de que esse avanço no setor têxtil chinês foi feito à custa dos trabalhadores. "A carga horária dos trabalhadores de lá é muito severa, eles não têm descanso", disse.

Outra reivindicação dos trabalhadores, segundo Marques, é de que os produtos importados tenham especificações mais abrangentes: "Gostaríamos que tivessem uma etiqueta de origem: como esse produto foi elaborado, como foi feito na China, se teve incentivo do governo, se houve a exploração de trabalhadores".

O presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP), Rafael Cervone, criticou o atraso na adoção das salvaguardas pelo governo brasileiro, lembrando as medidas foram adotadas rapidamente por países como os Estados Unidos. "Não há justificativa para um atraso na regulamentação das salvaguardas, uma vez que a China se submeteu, claramente, quando entrou na OMC, a eventuais salvaguardas se algum setor se sentisse prejudicado", observou.

Cervone alertou que a indústria têxtil investiu na modernização do parque industrial nos últimos anos e na abertura de novos mercados, que também estão ameaçados pelo desempenho da China, agravado pela baixa cotação do câmbio, o que prejudica a concorrência.

"A taxa cambial do Brasil tem prejudicado demais as exportações brasileiras. Temos alertado o governo que o resultado ainda não foi pior porque ainda existe um residual de contratos fechados no ano passado e que ainda estão sendo realizados com prejuízo. Muitos desses contratos não estão sendo renovados", disse. "Você demora às vezes dez, cinco, três anos para conquistar um mercado e a pior coisa do mundo é você abandonar esse mercado para tentar reconquistá-lo depois".