Indústria têxtil adota mecanismos para evitar demissões

31/07/2005 - 8h11

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Patrões e empregados da cadeia têxtil paulista - responsável por 40% da produção nacional - estão adotando mecanismos como banco de horas para manter os empregos. Eles concordam que a concorrência com os produtos chineses é um dos principais motivos para isto - aliado à taxa de juros e ao câmbio, que prejudica as exportações do setor. O presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP), Rafael Cervone, disse à Agência Brasil que o ritmo das contratações do setor já está dando sinais de desaceleração.

"O impacto tem sido forte. Vínhamos em um crescendo nas contratações no ano passado e a desaceleração já é bastante evidente, chegamos a um início de demissões. As indústrias estão no limite. As indústrias que nos últimos dez anos rodavam 24 horas, trinta dias, já reduziram um ou dois turnos de trabalho. Estão trabalhando em um mecanismo de banco de horas para evitar demissões, mas tudo isso tem um limite", afirmou. "Temos visto não só o nosso sindicato patronal alertando como o sindicato dos trabalhadores também bastante preocupado, com razão, em relação a essas questões".

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) confirmam a redução no saldo entre contratações e demissões no setor têxtil e de vestuário. Em junho último, o saldo foi de 3 mil postos de trabalho formais (com carteira assinada), contra 5.352 em maio e 7.110 em abril. De janeiro a junho deste ano, o saldo foi de 28.231 empregos, contra 37.849 no mesmo período do ano passado. "É preciso ver o setor têxtil como o segundo maior empregador de todos os setores produtivos nacionais, gera 1,5 milhão de empregos formais. É muito relevante, tem que ser estudado", disse Cervone.

O presidente do Sindicato dos Têxteis de São Paulo, Sérgio Marques, destacou que a situação que o setor vive está ocorrendo em um momento no qual os trabalhadores do setor começavam a sair da informalidade, após um período de estagnação. "Nos últimos anos, o setor têxtil foi o que mais investiu no parque industrial e a medida em que isso ocorre os trabalhadores vão voltando para as empresas. Houve um período, na época da abertura das fronteiras, no governo (do ex-presidente) Collor, que foi um dos piores. Com as empresas sucateadas, os trabalhadores começaram a ir para outros setores e agora estão voltando para o setor têxtil", ressaltou.

Marques alertou que é preciso adotar rapidamente as salvaguardas contra os produtos têxteis chineses, a exemplo do que fizeram países como os Estados Unidos, para evitar as demissões. "Se nós não defendermos a indústria brasileira, vamos estar indiretamente trabalhando contra os empregados brasileiros", afirmou. "A medida em que a china vai aumentando predatóriamente a sua exportação para o Brasil, vamos perdendo postos de trabalho, as empresas se transferem para outros lugares, então as salvaguardas são necessárias".

O secretário-executivo interino do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, disse no último dia 25, no Rio de Janeiro, que não há previsão de data para a aplicação de salvaguardas contra a China. Os decretos que regulamentarão os mecanismos, segundo Ramalho, estão sendo preparados na Câmara de Comércio Exterior (Camex).

O Brasil importou US$ 2,273 bilhões em produtos chineses no primeiro semestre, sendo 93,6% em produtos manufaturados, 4,9% de produtos básicos e 1,5% de semifaturados. Em contrapartida, 65% das vendas brasileiras para a China são de produtos básicos e 35%, de manufaturados e semimanufaturados.

O presidente do sindicato patronal concorda com a necessidade da adoção rápida das salvaguardas e defende investimento nos setores que produzem produtos de maior valor agregado e geram mais empregos. Segundo ele, a China é exemplo de resultado do investimento planejado.

"Não somos contra a China, pelo contrário, temos um profundo respeito pela China, pela capacidade de trabalho e de organização deles e pelo empenho que eles tem de planejar e buscar seus objetivos", disse. "Precisamos fomentar o investimento. Hoje, por falta de uma política mais coerente, de nós fazermos negociações bilaterais com os nossos principais clientes e não com os nossos principais concorrentes. Quando eu falo de clientes, estou falando principalmente de Estados Unidos e União Européia. O Brasil não tem uma negociação bilateral com esses países. Por conta disso, as empresas têxteis estão investindo US$ 300 milhões em fábricas na América Central. É um equívoco, estamos permitindo a ida de empresas brasileiras para fora do país, o que gera perda de empregos, de impostos e de capacidade produtiva no momento em que deveríamos estar investindo".