Delegado do Trabalho defende economia solidária para a várzea amazônica

31/07/2005 - 8h08

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Parintins (AM) - O delegado regional do Trabalho no Amazonas, Jorge Guimarães, defendeu que o fomento à economia solidária é o meio de se gerar e distribuir renda na várzea amazônica, uma região de 300 mil quilômetros quadrados onde vivem 1,5 milhão de pessoas. "As cooperativas surgem a partir da reunião de pessoas excluídas do mercado formal de trabalho. Na várzea a gente pode fomentar a criação de uma rede de produção e consumo local que afaste os produtos externos, a influência do grande capital", opinou Guimarães, durante o seminário Políticas Públicas para a Calha do Solimões/Amazonas", promovido pelo Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (PróVárzea/Ibama).

A coordenadora estadual do programa Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Cristiane Queirós, que também participa do encontro, informou que existem cerca de 20 mil empreendimentos da economia solidária no Brasil já identificados pelo Sistema Nacional de Informações da Economia Solidária, ainda em construção. "Eles possuem em comum a autogestão, a solidariedade, a cooperação e o empreendedorismo", explicou.

No Amazonas, no ano passado, a Delegacia Regional do Trabalho levantou 150 desses empreendimentos, sendo que 50 deles funcionam na capital. "Mas sabemos que o número real é muito maior. Na próxima semana começaremos a capacitar 35 pesquisadores que percorrerão todo o estado em busca de empreendimentos solidários. Eles aplicarão um questionário nacional, com 72 perguntas, além de um outro complementar, com questionamentos sobre a relação entre as atividades desenvolvidas e o meio ambiente", contou ela. Este trabalho será desenvolvido em parceria com a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), uma entidade não-governamental sediada em Manaus.

A Associação Vida Verde Amazônia (Avive) é um exemplo de ator da economia solidária. Ela surgiu a partir do encontro de um grupo de mulheres dispostas a trabalhar com óleos essenciais, em 1999, em Silves, no interior do Amazonas. Trinta delas, em 2002, formaram uma cooperativa que hoje produz de 500 a mil sabonetes por mês, vendidos principalmente para o mercado local. "A renda média mensal é de um salário mínimo por cooperada, mas poderia ser bem maior. Demanda existe e nossa meta é produzir 15 mil unidades por mês. Mas o que nos impede são as regras para funcionamento estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Por que temos que atender às mesmas exigências de uma grande empresa de cosméticos?", questionou Bárbara Schmall, uma das fundadoras da Avive.

No seminário, ela contou que a Avive já perdeu uma exportação para o Japão porque não possuía alvará de funcionamento da unidade produtiva. "O produto passou nos critérios rigorosos de seleção do mercado japonês, mas ficou retido na alfândega brasileira", lamentou.

A Avive é uma das iniciativas promissoras apoiadas pelo PróVárzea/Ibama, que faz parte do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado com verba da cooperação internacional.