Spensy Pimentel
Enviado especial
Teresina – Movimento cultural construído na Nova York dos anos 70 a partir da transformação da agressividade dos jovens em dança, pintura e música, o Hip Hop agora considera que a cultura digital pode se tornar a mais nova aliada no combate a violência na periferia das grandes cidades do país. "Os programas públicos de inclusão digital dão a oportunidade aos jovens de periferia de ter acesso a outras tecnologias que não a das armas", afirma Lamartine Silva, um dos coordenadores do MHHOB, Movimento Hip Hop Organizado do Brasil, um dos principais agrupamentos políticos do movimento hoje, com presença em 16 estados, segundo ele.
Lamar, como é conhecido, deve ser nomeado integrante do Conselho Nacional da Juventude na próxima semana, em Brasília, é responsável por um ponto de cultura em São Luís do Maranhão. Ele avalia que o programa marca uma novidade em termos de políticas públicas: "Até hoje, para fazer qualquer coisa com o governo federal na área de cultura, você tinha que passar pelo estadual. Esses dias, fiquei surpreso quando um ex-secretário de cultura lá do Maranhão me procurou para pedir emprestado meu projeto do ponto de cultura, ele queria que eu o ajudasse a conseguir um também para a entidade em que ele atua. Isso é uma novidade. O sujeito antes nem falava comigo".
Na Associação Piauiense de Hip Hop, onde funciona a sede informal do MHHOB, e que também se tornou agora um ponto de cultura, um dos coordenadores da entidade, Washington Gabriel Cruz, lembra que ali mesmo está o exemplo de como a cultura pode se tornar aliada na luta contra a exclusão provocada pela violência e o crime. Uma parcela das 85 bolsas-trabalho para jovens que o grupo conseguiu junto ao Ministério do Trabalho foi dada a 10 jovens menores de idade em regime de liberdade assistida e 15 jovens com mais de 18 anos que cumprem liberdade condicional. "A gente não é técnico, não dá para fazer uma avaliação quantitativa, mas é fácil perceber a mudança de comportamento dos jovens que vêm pra cá. Nós mostramos que é possível lutar na vida com outras armas, que não as de fogo", diz ele.
Para Washington, a reinserção social dos jovens por meio do contato com a cultura e o Hip Hop podem gerar todo um novo método para esses casos. "Estamos criando um modelo novo. Talvez alguém ainda vá escrever alguma coisa sobre isso, mas é muito diferente quando os meninos vêm pra cá do que quando eles vão encontrar alguém com formação mais acadêmica. O professor aqui, no primeiro dia de aula, já conta a história de vida dele e mostra que os problemas que o menino enfrentou são muito parecidos com os que todos nós aqui tivemos, pela nossa origem na periferia", argumenta.
Washington lembra que já houve casos de mães que foram pessoalmente à associação para agradecer pelas mudanças no comportamento do filho. "Não existe mau e bom. Existe oportunidade", diz ele, que há cinco anos deixou a carteira assinada no comércio de Teresina para "viver do Hip Hop" como grafiteiro.