Unicamp cede ao governo direitos de software que facilita atendimento a portadores de HIV

22/07/2005 - 12h39

Fábio Calvetti
Da Agência Brasil

São Paulo – A Universidade de Campinas (Unicamp) cedeu ao Ministério da Saúde os direitos de uso de um software capaz de ajudar os médicos no tratamento de pacientes portadores de aids. O programa Atendimento a Pacientes com Infecção por HIV é um prontuário eletrônico que substitui totalmente as dezenas de formulários preenchidas por médicos a cada consulta com pacientes soropositivos.

A concessão da Unicamp permite que o governo use o software em todas as unidades públicas de tratamento de pessoas com aids no país. O Ministério da Saúde já estuda a viabilidade de adotar o programa no sistema público de saúde.

De acordo com o autor do software, o infectologista William Barros de Abreu, a idéia de desenvolver o programa, chamado de Piaph, surgiu em função da grande dificuldade de levantar dados sobre os pacientes. "Da mesma maneira que nós temos essa dificuldade, o ministério tem em quantidade muito aumentada, porque eles têm que gerenciar a aquisição de medicamentos para mais de 150 mil pacientes por ano", afirma Abreu.

Segundo o infectologista, os dados de pacientes soropositivos são "extremamente volumosos" e os relatórios de exames e consultas podem ocupar mais de quatro pastas de papéis. O software substitui esses formulários e ajuda os médicos durante as consultas. "O software, na realidade, possui todos os dados relativos que devem ser colocados teoricamente em uma consulta no computador, de maneira bastante facilitada, de modo que o usuário precisa redigir, digitar, muito pouco. A maioria desse prontuário eletrônico é preenchida somente com cliques em opções", explica Abreu.

Além de facilitar o trabalho do médico, Abreu acredita que o software será capaz de humanizar o atendimento para o paciente. Segundo ele, o atendimento aos soropositivos demanda tempo devido ao preenchimento de muitos documentos, como pedidos de exames, pedidos de benefícios e receitas médicas de anti-retrovirais para o Ministério de Saúde.

"Isso tudo é feito a mão. A gente procura facilitar com alguns xeroxes, alguns carimbos, mas de qualquer maneira demanda tempo, podemos dizer 10, 15, 20 minutos. Pode-se dizer que você perde com atividades menos nobres do que no atendimento ao paciente", afirma Abreu. Para ele, permite ao médico dar mais atenção ao seu paciente. "Em uma consulta médica, o que mais tem importância é a conversa do médico com o paciente."

Segundo Abreu, além do programa ajudar na melhora da consulta, ele ainda pode diminuir custos do tratamento. Ele disse que é muito comum que papéis com resultados de exames não sejam encontrados porque não saíram do laboratório ou estão arquivados, o que obriga ao paciente refazer o exame.

De acordo com o infectologista, os direitos de uso do software podem ser cedidos também a outros países. "Qualquer serviço público que tenha interesse em adquirir esse software a gente faz a cessão dos direitos de uso de bom grado. Isso é uma coisa possível mesmo para países em desenvolvimento ou países pobres", afirmou.

O software levou três anos para ser finalizado e, na semana passada, foi instalado nos computadores da Unicamp. O programa será usado para o atendimento de cerca de 2.500 soropositivos que estão cadastrados nos centros da universidade.