Exploração de carvão no exterior pela Vale é importante para o país, defende geólogo

21/07/2005 - 16h00

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – A Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, considerou bastante positiva a notícia de que a Companhia Vale do Rio Doce está iniciando a exploração mineral na Austrália. O estudo exploratório de carvão metalúrgico da jazida Belvedere mostra que as reservas podem chegar a 2,7 bilhões de toneladas.

O geólogo José Alcides, assessor da Diretoria de Hidrologia e Gestão Territorial da CPRM, disse hoje à Agência Brasil que a entrada da Vale no mercado de carvão da Austrália "é interessante para o Brasil porque o carvão metalúrgico está extremamente valorizado no mundo e tem sempre o risco de não ter para comprar, além do preço estar muito alto". Alcides destacou que o carvão tem historicamente uma curva mais ou menos paralela com o petróleo, o que significa que "quando o petróleo sobe, o carvão sobe".

Como o preço está muito elevado no mercado internacional e a China está aumentando a produção de aço, baseada no coque, que é o carvão metalúrgico transformado, a exploração do carvão metalúrgico da Austrália pela CVRD pode representar a garantia de abastecimento para as siderúrgicas brasileiras, disse José Alcides. "O fato de uma empresa brasileira estar entrando na Austrália ou em outros locais no mundo tem essa vantagem da garantia do abastecimento".

Para viabilizar sua entrada no mercado australiano, a Vale firmou acordo com as empresas Aquila Resources Limited e AMCI Holdings Australia Pty Ltd. Em nota divulgada à imprensa, a CVRD informou que após o estudo de pré-viabilidade, com duração de 18 meses, a empresa poderá adquirir 51% do projeto Belvedere, pelo preço de U$ 90 milhões, com opção, mais adiante, de elevar essa participação para até 100%, através da compra das participações das duas companhias australianas pelo preço de mercado vigente à época do exercício de cada opção.

Os termos do acordo envolvem o pagamento pela CVRD às empresas da Austrália de montante da ordem de U$ 5 milhões, sendo 50% para cada uma. A Vale se compromete ainda a desenvolver o estudo do projeto de carvão subterrâneo Belvedere até o estágio de pré-viabilidade. A empresa revelou também que o investimento faz parte do programa de exploração mineral da Vale, que prevê sua inserção no mercado de carvão.

Segundo confirmou a assessoria de imprensa da Vale, essa operação "é um movimento estratégico da Vale no caminho da diversificação". As ações para ingresso da CVRD no mercado internacional de carvão foram iniciadas em novembro do ano passado, quando a empresa ganhou licitação para explorar as reservas de carvão de Moatize, em Moçambique, África, e tiveram continuidade este ano com a assinatura de memorando de entendimentos com a estatal Carbozulia, da Venezuela, para estudar o depósito de Socuy, e com a trade japonesa Itochu para cooperação na formação de um consórcio para estudar o depósito de carvão de Tavan Tolgoi.

O geólogo da CPRM informou que o Brasil nunca foi grande produtor de carvão metalúrgico. No melhor momento do mercado nacional, que foi após a 2ª Guerra Mundial, a única produtora, que era a Companhia Siderúrgica Nacional, abastecia somente 20% do mercado. Na gestão do ex-Presidente Fernando Collor, esse número oscilava entre 5% a 10% do consumo. Atualmente, a produção brasileira de carvão metalúrgico para as siderúrgicas integradas é praticamente nula.