Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio – O economista Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse hoje à Agência Brasil, no Rio de Janeiro, que a dívida pública mobiliária federal interna, como fração do Produto Interno Bruto (PIB), deverá ficar constante este ano. "Eu não vejo uma piora em relação aos outros anos", avaliou.
Segundo anunciou hoje (21), o coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Paulo Fontoura Valle, a relação dívida/PIB deve encerrar o atual exercício entre 50% e 51%, com a dívida atingindo entre R$ 940 bilhões a R$ 1 trilhão. O montante da dívida alcançou em junho passado R$ 905,51 bilhões, com incremento de 1,98% sobre maio. Desse total, R$ 13,28 bilhões foram pagos pelo governo federal em juros da dívida pública mobiliária federal interna. De acordo com estimativa preliminar do banco Central, a dívida pública líquida representa em 2005, até agora, em torno de 48% do PIB.
Samuel Pessoa disse não ver melhora na relação dívida/PIB porque os juros estão muito altos. "Como a inflação agora está baixando", ele acredita que "o Banco Central deve começar em alguma hora a baixar os juros. Mas eu prevejo que a gente vai pagar muito juro ainda pelos próximos três anos".O economista explicou que a dívida cresce devido ao déficit nominal, que corresponde hoje a cerca de 2,5% do PIB.
Para cobrir esse déficit, o governo teria três soluções: emissão de dinheiro, aumento de impostos e lançamento de títulos. Samuel Pessoa priorizou, entretanto, uma quarta solução, que considera a principal que seria o corte de gastos pelo próprio governo. "Essa seria a melhor (solução)", indicou.
Segundo Pessoa, "a carga de juros que o governo paga não é um absurdo". Nos últimos três ou quatro anos, o governo pagou entre 2% e 4% do PIB de juros. "Quer dizer, o governo pagou por volta de 7% ou 8% do PIB de juros. Só que 4% são correção monetária da dívida. De juros reais, o governo nos últimos três a quatro anos tem pago algo entre 2% e 4% do PIB de juros reais". O economista analisou que esse percentual é menor ou igual a 1/3 da conta da Previdência, área com a qual o setor público gasta 12% do PIB. Acrescentou que "4% do PIB significam pouco mais de 10% da receita do governo. Então, o governo está pagando em média 12% da sua receita com juros de dívida. Sobram 88% da arrecadação para ele fazer outras coisas".
A carga de juros não é a componente mais pesada do gasto público, afirmou o economista da FGV. "O problema não é que os juros são altos. Os juros estão altos porque tem um monte de outros problemas não resolvidos. O maior problema é que o gasto público é muito elevado". A conclusão de Pessoa é que para que a dívida interna baixe, o governo necessita também reduzir seus gastos. "Durante 10 anos, deu para o governo empurrar a coisa com a barriga, aumentando a tributação, mas parece que agora não dá mais".