Delúbio reafirma ter responsabilidade por empréstimos junto a Marcos Valério

20/07/2005 - 15h04

Juliana Andrade e Marcela Rebelo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O secretário de Finanças licenciado do Partido dos Trabalhadores (PT), Delúbio Soares, reafirmou hoje que é responsável pela negociação de empréstimos para o PT com o publicitário Marcos Valério, no valor de aproximadamente R$ 39 milhões. "Tenho a responsabilidade do empréstimo. A escolha das empresas para fazer os empréstimos nos bancos é de minha responsabilidade", disse. O empresário Marcos Valério, dono das agências de publicidade DNA e SMP&B, foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador de suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares em troca de apoio ao governo.

Delúbio Soares presta depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). O tesoureiro licenciado negou a existência do esquema de pagamento de mesadas. Ele reiterou que os empréstimos repassados por Marcos Valério foram destinados à quitação de dívidas de campanhas estaduais do PT e de partidos da base aliada e à organização das campanhas municipais de 2004. Para ele, não se trata de "caixa dois", mas de recursos não contabilizados. "Nós recorremos ao empréstimo. Como os recursos não eram contabilizados, nós não poderíamos internalizar ou contabilizar esses recursos no PT", afirmou.

Delúbio ressaltou também que, em nenhum momento, foi utilizado dinheiro público para o pagamento das dívidas do partido. "Não tem dinheiro público. Tem dinheiro privado, de um banco privado", reforçou. Ele negou ainda que o deputado José Dirceu (PT-SP), à época ministro-chefe da Casa Civil, soubesse dos empréstimos. "Nunca tratei desse assunto com ninguém do governo. Do partido, tratei com as pessoas que tinham o problema (de dívidas)", disse.

O dirigente licenciado negou que a cúpula petista tenha acertado o repasse de R$ 20 milhões para financiar campanhas do PTB em 2004, como relatou o deputado Roberto Jefferson em depoimento à CPMI. Durante o depoimento, Delúbio Soares fez um balanço da situação financeira do PT. Segundo ele, além da dívida não contabilizada de aproximadamente R$ 39 milhões, referente a 2003 e 2004, o diretório nacional do partido tinha uma dívida de cerca de R$ 20 milhões em dezembro de 2004.

Segundo Delúbio, era ele quem indicava as pessoas que iam receber o dinheiro e a forma de pagamento era definida por Marcos Valério. "O método como ele (Marcos Valério) conseguiu os empréstimos, eu não participei", acrescentou. O dirigente licenciado não informou aos parlamentares da CPI a lista de pessoas que teriam sacado o dinheiro das contas do empresário nas agências do Banco Rural e do BMG. Ele fez uso do direito que lhe confere habeas corpus preventivo concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para se recusar a responder perguntas de parlamentares. "Para não ser injusto com ninguém, tanto com os nossos candidatos, com as pessoas que precisaram dos recursos, os diretórios dos partidos aliados, e os fornecedores, eu prefiro me reservar ao direito de não declinar os nomes agora", declarou.

Delúbio tampouco quis responder como será pago o empréstimo feito por Marcos Valério. O petista disse que "as investigações do Ministério Público e das CPIs dos Correios e do ‘Mensalão’ vão esclarecer os fatos".