Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Tarso Genro, anunciou hoje (19) que o partido não reconhecerá as dívidas constraídas sem autorização legal de sua executiva. "Se aparecer alguma (dívida), que mesmo que tenha sido contraída informalmente, se demonstre que foi drenada para uma conta do partido, vamos verificar para que organismo partidário foi, quem fez uso e, eventualmente, reconhecê-la", ponderou o presidente do PT.
De acordo com Tarso, o mesmo ocorrerá caso alguma investigação comprove a entrada de dinheiro não registrado para o PT. "Se alguma investigação eventualmente mostrar uma drenagem de dinheiro para dentro do partido, que não está escriturada, vamos verificar quem recebeu, por que recebeu, qual a destinação deste dinheiro", assegurou.
No sábado (16), o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, afirmou em entrevista à TV Globo que nem todos os recursos doados para as campanhas do partido foram contabilizados ou informados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O petista também confirma que o empresário Marcos Valério, dono da agência de publicidade SMP&B, concedeu empréstimos ao partido no valor aproximado de R$ 39 milhões.
Segundo Delúbio, o dinheiro serviu para liquidar dívida das campanhas estaduais de 2002 e efetuar pagamentos para o PT e partidos da base aliada na disputa eleitoral em 2004. "Não foi ilegal, foi dinheiro de um empréstimo colocado à disposição para determinados pagamentos", disse, ao explicar os saques realizados por representantes de partidos na agência do Banco Rural em Brasília.
Hoje, durante a reunião, a Executiva analisou as contas do partido e identificou dívidas contratuais de R$ 38,99 milhões. O montante apurado inclui os empréstimos avalizados pelo empresário Marcos Valério nos bancos Rural e BMG (de R$ 6,2 milhões e R$ 3,22 milhões, respectivamente) e ainda um débito de R$ 351 mil com a empresa de publicidade de Valério, a SMP&B. Não inclui, portanto, dívidas contraídas pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares sem registro formal no partido.
"Esta é a dívida que o partido está reconhecendo neste momento, em cima de documentos formais", afirmou Tarso. O presidente do PT anunciou que para recuperar a "normalidade financeira" em 18 meses, o partido pretende desativar a sede de Brasília, reduzir sua frota de 8 carros e limitar em R$ 7 mil os salários dos dirigentes, entre outras medidas. "Se nós fossemos uma empresa seria uma situação de insolvência", disse Tarso.
Tarso Genro anunciou que, para retomar o controle de suas contas, o partido vai elaborar um regimento interno de gestão financeira – instrumento que hoje não existe. "Esse é um dos elementos que nos parece importante e que provavelmente permitiu uma gestão financeira do partido que, na opinião pacífica da executiva nacional, foi uma gestão temerária", avaliou Tarso.
A proposta desse regimento será apresentada na próxima reunião do diretório nacional, nos dias 6 e 7 de agosto. O PT convidará os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, para debater, na mesma reunião, gestão orçamentária e política econômica.
"Há uma unanimidade no diretório nacional que a política econômica do governo é um dos elementos importantíssimos para serem debatidos por este coletivo, que tem a obrigação política e estatutária de apreciar as questões importantes que dizem respeito ao nosso governo", justificou o presidente do PT.