Vice-líder do governo pede a Câmara investigação contra Rodrigo Maia por quebra de decoro

15/07/2005 - 18h28

Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O vice-líder do governo na Câmara, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), protocolou hoje representação na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados pedindo investigação contra o líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ), por quebra de decoro parlamentar em virtude de informações divulgadas pelo líder pefelista à imprensa.

Ontem, Rodrigo Maia tornou público um cruzamento feito por sua assessoria dos dados de pessoas que estiveram no Banco Rural em Brasília, onde o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) apontou que eram sacadas mesadas pagas a parlamentares, com nomes de funcionários da Câmara que foram à agência no mesmo período. O levantamento de Rodrigo Maia apontou que funcionários e parentes de nove parlamentares petistas estiveram na agência do Banco Rural entre 2003 e 2004 - alguns, dias após ou no mesmo dia em que grandes saques foram efetivados pelo empresário Marcos Valério, acusado de ser o suposto operador do mensalão.

Sigmaringa Seixas disse que Rodrigo Maia não pode "se escudar na sua imunidade parlamentar" para atacar a sua honra. O deputado petista disse que já havia revelado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios que uma de suas funcionárias esteve no Banco Rural para sacar um cheque de R$ 400 por serviços prestados fora da Câmara. "Ela ganha parcos R$ 520 e, por isso, complementa sua receita nos fins de semana. Ela trabalhou num desses fins de semana e recebeu em pagamento R$ 400, lamentavelmente nesse fatídico Banco Rural. Foi ao banco retirar o pagamento do seu trabalho de fim de semana. Isso estava esclarecido à CPI, o deputado sabia disso", criticou.

Rodrigo Maia rebateu as acusações de Sigmaringa Seixas e afirmou que fez apenas um "cruzamento primário" dos dados. O restante, segundo o líder pefelista, foi feito pela própria TV Globo. "A emissora é que pediu o cruzamento do PT. Eu disse à repórter que o Paulo Delgado e o Sigmaringa não tinham nada a ver com isso", disse. Maia afirmou que é direito de Sigmaringa Seixas entrar com a representação na Mesa Diretora da Câmara. O pefelista também admitiu que servidores do seu gabinete estiveram na agência do Banco Rural no mesmo período e afirmou que já colocou à disposição da CPI dos Correios todas as informações sobre esse caso. "A TV Globo tinha essa informação antes de a matéria ir ao ar", disse.

Para Sigmaringa Seixas, Rodrigo Maia "abusou de sua prerrogativa" parlamentar ao divulgar informações sem comprovações legais: "Isso não está só atingindo o PT, está se transformando em uma histeria coletiva". "Eu fui atingido, lamentavelmente, pela irresponsabilidade de um deputado que não tem dúvida nenhuma que sou uma pessoa honrada, mas foi leviano, levou informações maldosas para atingir a minha honra, e ela há de ser reparada. É uma luta política menor, pequena, sórdida", disse.

Além do deputado Sigmaringa Seixas, o levantamento de Rodrigo Maia mostrou que funcionários dos deputados petistas Paulo Rocha (PA), Vicentinho (SP), Paulo Delgado (MG), Zezéu Ribeiro (BA), Devanir Ribeiro (SP) e Wasny de Roure (DF) estiveram na agência do Banco Rural supostamente no período em que era pago o mensalão. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha aparece na lista, uma vez que sua esposa esteve na agência no período. Já o deputado Josias Gomes da Silva (PT-BA) aparece no levantamento de Rodrigo Maia por ter comparecido pessoalmente à agência bancária.

O deputado Wasny de Roure (PT-DF) divulgou nota oficial para esclarecer que o seu ex-funcionário apontado por Rodrigo Maia por ter ido ao Banco Rural é um homônimo. "Ele é portador de uma carteira de identidade de Brasília, enquanto o seu homônimo é portador de identidade de Minas Gerais", ressaltou. Wasny também afirmou que em 2002, quando o seu ex-funcionário foi à agência do banco, ele não era deputado federal. "Eu nem sequer era deputado e tampouco o Luiz Carlos da Silva poderia ser meu assessor parlamentar. Aliás, os dados de visita de pessoal de 2002 ao Banco Rural não foram considerados ou solicitados pela CPI dos Correios", disse. O deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, também divulgou nota em que mostra que a mesma coincidência aconteceu com o nome de um de seus assessores, Jair dos Santos.