Especial 7 - Movimentos sociais ajudam a aproximar profissionais de saúde da realidade popular

15/07/2005 - 6h09

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A troca de experiências com movimentos sociais envolvidos com educação popular em saúde é uma das formas por meio das quais médicos, enfermeiros e outros profissionais da área devem buscar uma formação diferenciada. Esse é o entendimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde, Maria Luiza Jaeger.

"A gente tem incentivado que haja uma articulação permanente entre esses movimentos sociais, uma troca de experiências, um viver que é um pouco o conceito de ver a integralidade da atenção à saúde", destaca Maria Luiza. A Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde conduz a política de educação permanente em saúde, que tem como um dos objetivos aproximar dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) os médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da área, considerando a realidade dos pacientes.

Segundo Maria Luiza, a política inaugura instâncias diferenciadas de formulação de políticas, como os pólos de educação permanente, que reúne gestores da área, instituições de ensino, trabalhadores, estudantes, além de representantes de movimentos sociais. "A gente tem incentivado que o conjunto desses movimentos participe dos pólos, discuta com as instituições formadoras, com os gestores, quais são as suas necessidades, porque eles convivem na realidade com o funcionamento do sistema e geralmente têm muito mais claro o quanto esse sistema, muitas vezes, não pensa na saúde deles".

A secretária diz ainda que a posição do Ministério da Saúde é de que é preciso partir do princípio de que existe saber popular. "Existem experiências e práticas populares que são fundamentais. Têm de ser preservadas e incentivadas. Além disso, há discussões que é muito mais fácil a população fazer entre si".

Maria Luiza dá como exemplo dessa facilidade a discussão sobre gênero feita atualmente por trabalhadoras rurais. "É muito mais fácil elas montarem a sua proposta de como discutir isso, e o profissional participar, do que pegar um serviço de saúde para dar um cursinho sobre gênero sem conhecer a realidade de vida dessas pessoas".

Para o médico Rodrigo Cariri, consultor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, ligado à secretaria, a formação clássica dos profissionais de saúde ainda se distancia do princípio da integralidade, "que significa entender o indivíduo como um todo e no lugar onde ele vive". O atual modelo de formação dos profissionais, na avaliação do médico, presume uma capacidade limitada de solução de problemas de saúde.

No entendimento de Cariri, o aprendizado junto aos movimentos sociais pode ajudar a mudar esse quadro. "O movimento social é o guardião da integralidade", defende. "No movimento social, um cuidador popular de saúde, uma parteira, uma benzedeira, uma avó que trabalhe com medicamentos fitoterápicos, com plantas medicinais, são pessoas que ainda fazem uma medicina popular pensando no indivíduo como um todo, no que ele come, como ele vive, se ele está passando bem, se anda tendo muita contrariedade, se está estressado, e essa visão do todo é uma visão que interessa para a formação do profissional e para o trabalho dele no SUS", acrescenta.

O médico destaca que o incentivo à participação dos movimentos sociais nas esferas de formulação e nas próprias ações educativas dos profissionais de saúde é uma estratégia para "trazer o profissional de volta para essa prática mais integral em saúde, resgatar essa característica cuidadora desses profissionais".