Tarifas públicas e câmbio influenciam fortemente inflação no Mercosul, aponta IBGE

14/07/2005 - 13h25

Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Rio - A inflação no Mercosul é fortemente influenciada pelas variações dos preços administrados pelos governos e também pela cotação do dólar. A avaliação é do presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eduardo Pereira Nunes, ao divulgar hoje (14) o primeiro resultado do Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado (IPCH), elaborado em conjunto com os institutos de pesquisas da Argentina, Uruguai e Paraguai, além do Chile e divulgado simultaneamente em todos estes países.

A exemplo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é usado pelo governo para fixar as metas inflacionárias, o novo índice também leva em conta o peso de itens como transporte, alimentação, vestuário, aluguel, educação e comunicações têm no orçamento das famílias que ganham até 40 salários mínimos por mês.

"Os reajustes das tarifas públicas e a questão cambial tiveram uma forte correlação coma inflação na região do Mercosul e Chile", observou Nunes. "Nos três países que passaram por crises cambiais expressivas no período de 2000 a 2004 – Argentina, Uruguai e Brasil – vamos observar que após a crise cambial há uma aceleração da inflação. No Chile, que é um país bem mais estável do ponto de vista cambial, vamos observar essa mesma estabilidade no processo inflacionário."

Antes da crise cambial em 2001, a Argentina registrou deflação de 1,8% em 2001, de acordo com o índice. Já em 2002, quando acabou a paridade do peso argentino com a moeda americana, a inflação chegou a 42,4%. No mesmo período, a inflação no Brasil saltou de 8,2% para 13,0% e no Uruguai, de 3,1% para 27,0%.

No caso das tarifas públicas, o presidente do IBGE destacou o caso da energia elétrica, cujos reajustes chegaram, por exemplo, a 114,5% no Paraguai e 112% no Brasil entre 2000 e 2004.

O IPCH foi apurado no Mercosul e no Chile de 1999 a 2004. O Brasil registrou a maior inflação do bloco (7,7%) no ano passado. No Uruguai a taxa foi de 7,3%, na Argentina de 6,0%, no Paraguai de 2,9% e no Chile de 2,6%.

O projeto foi desenvolvido em convênio com a União Européia, que detém a experiência há vários anos, e a metodologia usada em todos os países foi unificada tendo como referência as classificações da Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda segundo o presidente do IBGE, o novo índice será divulgado a cada três meses e a princípio servirá apenas para comparar a inflação nos países do Mercosul e Chile. "Futuramente poderemos usá-lo como referência para uma taxa de inflação unificada do bloco", disse Nunes.