Especial 5 - Médico diz que alunos dos cursos de saúde ainda têm visão elitizada

14/07/2005 - 9h54

Michèlle Canes
Da Agência Brasil

Brasília - Gilberto Martins, 27 anos, conta que conheceu o sistema público de saúde brasileiro na infância. "Eu nunca tive plano de saúde, então eu fui usuário. Na época era o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) ainda. Então, quando eu adoecia, minha mãe me levava aos hospitais públicos. Naquela época eu já notava o quanto era deficiente o serviço público. Era muito ruim."

Atualmente, ele cursa o segundo ano de residência em pediatria no Hospital Universitário da Universidade de Brasília, que está integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). E hoje, faz a crítica de quem participa do sistema como profissional: "Hoje eu tenho uma visão como médico, eu já tive a visão de paciente também, e hoje eu vejo que a situação é bem pior, pior do que eu pensava. Eu já trabalhei no interior de Goiás, do Pará, em São Paulo... Em alguns lugares era como fazer uma medicina de guerra, de tentar se virar, atender com o que não tem."

Martins compara as dificuldades que encontra na saúde pública à sensação de estar "com as mãos atadas". "A sensação é terrível porque você sabe como devem ser feitas as coisas mas você não tem como."

Por isso, o médico considera importante que os alunos tenham contato com o atendimento no sistema público. "Muitos alunos têm uma visão elitizada da medicina. Eles têm que ter contato com a realidade mesmo. Eles têm que saber o que tem que pedir, o que tem que fazer, mas saber que, se você for para certos lugares, não tem como, é inviável", afirma. Apesar de exaltar a experiência, ele diz que a maior parte dos estudantes ainda tem pouco acesso a oportunidades de contato com a realidade do sistema público.

Na UnB, Martins conta que os estudantes já estão tendo a oportunidade de contato com a realidade do sistema de saúde. "Desde o primeiro ano, os alunos estão em contato com o paciente e vendo a doença como um todo. Eu acho isso interessantíssimo. Porque você não fica só na aula expositiva. Você vê a doença e a causa. Isso vai formar médicos muito melhores do que a gente tem hoje" diz ele.