Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília – Um despertar de consciência. É assim que a estudante de medicina Thaís Alessa Leite, 21, avalia a oportunidade de fazer estágio em centros de saúde que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Participar do estágio possibilitou que a realidade do sistema de saúde ficasse mais clara, que a gente pudesse, a partir dessa vivência, se sensibilizar com relação ao projeto que é o SUS", diz.
Thaís é um dos 1.200 estudantes que participaram no ano passado do VER-SUS - projeto de estágio no Sistema Único de Saúde que permite que estudantes da área de saúde conheçam o funcionamento do sistema público de saúde. De acordo com a Direção Executiva Nacional de Estudantes de Medicina (Denem), a maior parte dos futuros médicos deixam as universidades sem conhecer a realidade do SUS. "A gente tem uma formação muito voltada na sala de aula. Não tem tanta inserção na realidade do sistema, onde ele se organiza, onde há demanda de saúde da população. A idéia da vivência é muito potente, porque traz a realidade à tona e provoca sensibilização", afirma o coordenador-geral da entidade, Luiz Nicolodi.
Para Thaís, em geral, a relação dos estudantes com o SUS ainda é muito teórica e o projeto vem para suprir essa carência. "O conhecimento que a gente tem sobre o SUS é muito teórico, incipiente. A gente acaba não vivenciando todas as esferas do Sistema Único de Saúde enquanto é estudante. Além disso, melhora a forma como você se relaciona com o paciente".
Thaís participou do VER-SUS em agosto de 2004, nos centros de saúde de Londrina (PR), junto com outros onze estudantes da área de saúde. "A gente participava da vivência no período da manhã e da tarde. A gente circulava por todas as esferas que compõem o SUS, como a atenção à saúde, a parte de conteúdo social. Participamos de reuniões de moradores e todas as noites fazíamos um relatório de tudo. A partir disso, nossa intervenção na comunidade se torna mais qualificada e a gente começa a atuar com mais força", conta.
Segundo Luiz Nicolodi, esse projeto contribui para a construção de uma outra idéia do SUS. "A gente percebe que ainda há pouco conhecimento da população como um todo em relação ao sistema e com o estudante não é diferente. Às vezes, ele entra na universidade com o ideal de uma profissão liberal na medicina de consultório e não consegue compreender o que é a esfera pública, o que é a universalidade da atenção, a integralidade, que são os princípios do SUS." Para Nicolodi, a vivência, apesar de curta, provoca o estudante para que ele construa outra experiência na carreira.