Danielle Coimbra
Da Agência Brasil
Brasília – Não são fatos isolados a morte dos índios truká Adenilson dos Santos Vieira e Jorge Adriano Ferreira Vieira, no último dia 30, e a prisão de Aurivan dos Santos Barros, o Neguinho Truká, desde a última segunda-feira (11), no município de Cabrobó, em Pernambuco. "O conflito entre os indígenas e a Polícia Militar começou em 1999", afirma a antropóloga e educadora do Centro de Cultura Luiz Freire, Caroline Mendonça, que acompanha os índios em Cabrobó.
Em 1999, os Truká conseguiram que os 124 posseiros residentes saíssem das terras consideradas tradicionais da Ilha de Assunção, uma área de 6.200 hectares. Cerca de 3.500 índios vivem hoje na ilha.
"A partir desse fato, a polícia e o procurador começaram a expedir vários processos de mandado de prisão contra as lideranças truká, acusando-as de roubo de gado e formação de quadrilha", relata a antropóloga. "A formação de quadrilha, a que eles se referem, é a organização social do povo, reconhecida pelo artigo 231 da Constituição Federal como o direito dos índios de se organizarem."
Caroline Mendonça explicou que, desde 1999, os índios têm sido alvo de violência por parte da Polícia Militar que atua no município. "Cabrobó é uma região de tráfico de drogas, e na desculpa de estar combatendo o tráfico, eles espancavam os índios como se eles participassem dessa atividade", analisa Segundo ela, quando os Truká retomaram as terras, toda a plantação de maconha que existia na região – "cultivada pelos fazendeiros" – foi destruída em conjunto com a Polícia Federal.
A advogada e missionária do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Michael Mary Nolan informa ainda que os Truká pediram que Neguinho Truká, então detido no presídio de Salgueiro, seja transferido para outra penitenciária. "A procuradora acatou o pedido, e hoje ele deve ser transferido para o presídio de Petrolina, onde ele terá mais segurança, já que os Truká temem que os policiais o agridam", diz ela.
Ontem (13), Michael Mary contou que as lideranças truká formalizaram um pedido de procedimento para investigação da ação da Polícia Militar na aldeia indígena, na Ilha de Assunção em Cabrobó. "Eles pediram para que os policiais que agridem os índios sejam impedidos de entrar na aldeia, e que apenas os dez policiais já treinados para lidar com os índios possam ter acesso a eles." Segundo ela, o Ministério Público em Pernambuco vai avaliar o pedido.