Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, avalia que o primeiro passo para a implantação efetiva de uma política de segurança cidadã no Brasil é fazer com que a polícia recupere a confiança da população. "O desafio que estamos encontrando hoje para estabelecer o real sistema de segurança cidadã ainda tem sido o de restabelecer a confiança da população nas nossas polícias e restabelecer meios de contato direto entre a polícia e a população no policiamento comunitário", afirmou o secretário, durante a abertura da reunião sobre Segurança Cidadã na América do Sul.
Segundo Barreto, apesar dos altos investimentos em segurança pública, "nem sempre é possível transmitir à população a expectativa de que vamos resolver o problema da segurança pública no nosso país". Para o secretário, um dos motivos é a desconfiança da população em relação aos próprios policiais. "Pesquisas recentes mostram que, muitas vezes, a população teme a polícia na mesma proporção que teme os bandidos. Já tive esse tipo de pesquisa nas minhas mãos e vejo isso com extrema preocupação", disse Barreto, ao destacar que, na realidade, a maior parte dos policiais atua de acordo com a lei.
Na avaliação do secretário, é preciso que a atuação policial seja diferenciada. Uma das frentes é o combate às redes criminosas, que deve ser "quase de guerra", voltado para a inteligência estratégica. De acordo com ele, a outra diz respeito ao enfrentamento dos crimes que estão no "dia-a-dia de insegurança da população", como roubos, furtos, seqüestros-relâmpagos. "Se nossas forças policiais começarem a agir da mesma forma como agem no combate às redes organizadas na proteção da população contra os delitos pequenos, a gente percebe que, às vezes, a população acaba sendo vitima da ação policial".
Barreto disse que, se o policial se aproximar da população, por meio de centros comunitários, associações de moradores e de condomínios, por exemplo, será possível desenvolver um trabalho preventivo com maior facilidade. "A partir do momento em que o policial ficou conhecido na comunidade, ele pode passar a orientá-la a como evitar situações de violência e promover atuações de polícia preventiva, envolvida nos projetos da comunidade".
De acordo com o secretário, as guardas municipais, previstas na Constituição Federal de 1988, são exemplo de polícia comunitária no país. "São guardas não armadas, em sua maioria, que atuam nas escolas, junto à comunidade, prevenindo os delitos. Mas, muitas vezes, há uma tentação dos prefeitos brasileiros de transformar essas polícias municipais em polícias armadas, em terceira polícia, além da Civil e Militar. E aí é uma tentação que pode levar todo o desenho desse processo ao fracasso", disse.